Karl Marx, um cientista social, historiador e revolucionário, nasceu a 5 de maio de 1818 em Treves, capital da província alemã do Reno, cuja tradição remontava aos tempos de Roma. Treves desempenhava, no século XIX, importante papel na cultura dessa região, misturando o liberalismo revolucionário, vindo da França, com reação do Antigo Regime, liderada pela Prússia.
Filho de Hirschel, um advogado bem-sucedido e conselheiro de justiça de origem judaica, intelectualmente um racionalista de formação tipicamente iluminista. Em 1824 abandonou o judaísmo, batizando-se com o nome de Heinrich. Filho de Enriqueta Pressburg, uma dona-de-casa que, apesar de descendente de rabinos, não teve qualquer influência intelectual sobre sua formação. Era uma família de classe média, de situação confortável. De sua juventude não se sabe nada significativo. É apenas interessante observar que o futuro ateísta fanático tenha escrito um ensaio de conclusão do curso secundário sobre o tema “A Unificação dos Crentes em Cristo”.
Aos 17 anos, Marx se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade de Bonn. Não foram, porém, tempos de muito estudo e trabalho. O jovem descobriu a vida boêmia do estudante romântico, esbanjou dinheiro (ao menos ao entender de seu pai), e escreveu versos apaixonados à sua amiga de infância, Jenny von Westphalen. Em 1836, voltando de Bonn, ficou noivo dessa jovem e idealista de rara beleza filha do barão von Westphalen. Esse casamento desigual se deparou com grande oposição de ambas as famílias, vindo a se realizar-se oito anos depois.
Para realizar o desejo do pai, que pedia o término dos estudos antes do casamento, Marx matriculou-se, em julho de 1836, na Universidade de Berlim, maior e mais séria, na qual ele passou os quatro anos seguintes, afastou-se do Direito, apaixonou-se pela História e pela Filosofia e abandonou o romantismo em favor do hegelianismo que predominava na capital naquela época. Marx seguiu com destaque os cursos disciplinares e freqüentou o “Clube do Doutor”, círculo de jovens e brilhantes intelectuais hegelianos. Lá eles discutiam a filosofia de Hegel e outros filósofos românticos. Com 23 anos Marx se forma com um trabalho sobre um tema filosófico.
Depois de formado, Marx tentou seguir carreira acadêmica na universidade de Bonn com a ajuda de um amigo teólogo, mas logo é afastado pelo governo prussiano. Então, começa a se dedicar ao jornalismo, sendo o redator, em outubro de 1842, da “Gazeta Renana”, órgão de concentração dos intelectuais da região de tendência liberal, publicado em Colônia. Essa atividade força-o a ocupar-se com problemas concretos de natureza política e econômica. Os incisivos artigos de Marx, particularmente sobre questões econômicas, levaram o governo a fechar o jornal em janeiro de 1843 por incomodar muitos poderosos e inflamar os ânimos da burguesia latifundiária tradicionalista da parte da Prússia.
Marx parte então para a França. Em Paris, no fim de 1843, ele estabelece contato com grupos organizados de trabalhadores alemães que haviam emigrado e com várias seitas de socialistas franceses. Estudioso de Feuerbach, Marx escreve a Crítica do direito público de Hegel, da qual introdução foi publicada em Paris no ano seguinte por Ruge, nos “Anais Franco-Alemães”, publicação de vida efêmera, que pretendia ser uma ponte entre o nascente socialismo francês e as idéias dos hegelianos radicais alemães, da qual ele seria, a convite de Ruge, co-diretor. Na cidade Luz, Marx entrou em contato e foi bem recebido por vários grandes intelectuais, sobretudo o seu grande amigo e colaborador de toda a vida, Friedrich Engels. Porém a ousadia e o impacto dos “Anais” acabaram por decretar o seu próprio fim, tendo sido publicado apenas um volume. Durante os primeiros meses de sua permanência em Paris, Marx tornou-se logo um comunista convicto e começou a registrar suas idéias e novas concepções em uma série de escritos que mais tarde ficariam conhecidos como “Manuscritos Econômico-Filosóficos”, mas que permaneceram inéditos até cerca de 1930. Nestes manuscritos, Marx esboçava uma concepção humanista do comunismo, influenciada pela filosofia de Feuerbach e baseada num contraste entre a natureza alienada do trabalho no capitalismo e uma sociedade comunista na qual ao seres humanos se desenvolveriam livremente sua natureza em produção cooperativa. Marx também escrevia artigos políticos para o jornal dos artesãos alemães, o Vorwärts. Como este jornal tinha uma linha crítica-socialista e os artigos eram de qualidade, a colaboração de Marx acabou por inflamar novamente os ânimos dos poderosos, e ele é expulso da França em janeiro de 1845, transferindo-se, então, para Bruxelas com Engels.
Em Bruxelas, Marx dedica-se a um estudo intensivo da história e cria a teoria que veio a ser conhecida como a concepção materialista da história. Essa concepção foi exposta em um trabalho (publicado postumamente), escrito em colaboração com Engels e conhecido como “A ideologia alemã”, cuja tese básica é a de que “a natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua posição.” Nessa obra, Marx esboça a história dos vários modos de produção, prevendo o colapso do modo de produção vigente – o capitalista – e sua substituição pelo comunismo. Marx participou intensamente da atividade política, polemizando, em “Miséria da Filosofia”, contra o socialismo de Proudhon, autor de “Filosofia da miséria”, que considerava idealista, e ingressando na Liga Comunista, organização de trabalhadores alemães emigrados, sediada em Londres, da qual se tornou juntamente com Engels, o teórico principal. Na conferência da Liga realizada em Londres em fins de 1847, Marx e Engels receberam a imcubência de escrever um manifesto comunista que fosse a expressão mais resumida das concepções da organização. Pouco depois da publicação do Manifesto Comunista, em 1848, uma onda de revoluções varreu a Europa. Com os movimentos sociais de 1848 na França, Marx volta a Colônia, na Alemanha, onde tenta novamente o jornalismo, fundando o periódico “Nova Gazeta Renana”. O jornal sustentava uma linha democrática radical contra a autocracia prussiana. O jornal de Marx fora proibido e ele foi então para Londres, em maio de 1849, para começar a “longa e insone noite de exílio” que deveria durar o resto de sua vida.
Ao fixar-se em Londres, Marx volta a participar de uma liga comunista renovada e escreve dois extensos folhetos sobre a revolução de 1848 na França, e suas conseqüências, intitulados “As lutas de classe na França de 1848 a 1850” e “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”. Marx consegue se dedicar e aprofundar-se nos estudos de economia política, sociologia e história de tal modo que seu conhecimento e argumentação impressionam a todos os que o conhecem. Desta são as sementes que mais tarde iriam eclodir em “O Capital”.
Durante a primeira metade da década de 1850, a família de Marx vive em condições de grande pobreza. Ao chegar em Londres, a família já tinha quatro filhos, e dois outros nasceram pouco depois. Destes, apenas três meninas sobreviveram. Marx tem de levar a vida em grande parte por meio de donativos, sobretudo de seu amigo Engels. A renda era suplementada por artigos semanais que Marx escrevia, como correspondente estrangeiro, para o jornal norte-americano New York Daily Tribune. As condições de moradia foram na maioria das vezes catastróficas; ocasionalmente, até a mobília era penhorada. Heranças recebidas em fins da década de 1850 e princípios da década de 1860 tornaram um pouco melhor a situação financeira da família, mas só a partir de 1869 ele pôde dispor de uma renda suficiente e constante, que lhe foi assegurada por Engels.
Em 1857-1858, Marx tinha redigido um gigantesco manuscrito de 800 páginas, esboço inicial de uma obra em que pretendia ocupar-se do capital, da propriedade agrária, do trabalho assalariado, do Estado, do comércio exterior e do mercado mundial. Esse manuscrito, conhecido como “Esboços da crítica da economia política”, só foi publicado em 1941. No início da década de 1861, Marx interrompeu seu trabalho para escrever três grossos volumes intitulados “Teorias da Mais-Valia”, no qual examinava criticamente o pensamento de seus antecessores na reflexão teórica sobre a economia política. Apenas em 1867 pode Marx publicar os primeiros resultados de seu trabalho no primeiro livro de “O Capital”, dedicado ao estudo do processo capitalista de produção. Nele, desenvolveu sua versão da teoria do Valor trabalho e suas concepções da Mais-Valia e da Exploração. O segundo e o terceiro livro de “O Capital” ainda não tinham sido terminados na década de 1860, e Marx trabalhou neles pelo resto de sua vida. Ambos foram compilados por Engels a partir de notas originais e publicados após a morte de Marx. Uma das razões por que levou Marx tanto tempo para escrever “O Capital” foram o grande tempo e a energia que dedicou à Primeira Internacional, para cujo Conselho Geral foi eleito quando de sua fundação em 1864. Marx atuou particularmente na preparação dos congressos anuais da Internacional a na liderança da luta contra a ala anarquista. Embora tivesse vencido a disputa, levou ao rápido declínio da Internacional. O acontecimento político mais importante durante a existência da Internacional foi a Comuna da Paris de 1871, quando os cidadãos da capital rebelaram-se contra seu governo e tomaram a cidade por um período de dois meses. Sobre sangrenta repressão dessa revolta, Marx escreveu um dos seus mais famosos folhetos: “A guerra civil na França”, defesa entusiasta das atividades e objetivos da Comuna.
Extremamente dedicado a atividade de organização da política do movimento operário, Marx funda em Londres, em 1864, a “Associação Internacional dos Trabalhadores”. No período posterior, dedica-se febrilmente ao trabalho.
Marx via-se cada vez mais acometido por doenças e viajava regularmente para estações balnearias na Europa e até mesmo na Argélia, em busca de recuperação. As mortes de sua filha mais velha e de sua mulher ensombreceram os últimos anos de sua vida. Semi-solitário, mas muito ativo, Marx expira em 14 de março de 1883 aos 65 anos.
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