Quinze mil pessoas unidas pela continuidade das ações da ASA

Catarina de Angola* e Mariana Mazza**

Petrolina - PE
22/12/2011


Cerca de 15 mil agricultores e agricultoras de todos os estados do Semiárido brasileiro. Esse foi o número de participantes da caminhada realizada pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) entre as cidades de Juazeiro, na Bahia, para participar do ato público realizado em Petrolina, Pernambuco, na última terça-feira (20). Os números foram divulgados pela Polícia Rodoviária Federal.


Agricultores e agricultoras atravessaram a ponte que liga Juazeiro a Petrolina para participar do ato público da ASA
Foto: Ivan Cruz/Asacom

Os agricultores e agricultoras ocuparam a ponte que liga as duas cidades sertanejas para dizer ao governo federal que querem a continuidade da parceria do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) com a ASA, para a continuidade dos programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2). “É inadmissível que se corte a parceria com a ASA, não se pode aceitar que uma prática da qualidade dessa, que já construiu mais de 370 mil cisternas no Semiárido, seja de uma hora pra outra desconsiderada pelo governo federal. Nós queremos dizer ao governo que estamos na perspectiva de sermos chamados para reconstruir essa relação”, pontuou Naidison Baptista, integrante a coordenação executiva da ASA.

As delegações começaram a chegar logo cedo na orla do Rio São Francisco, na cidade de Juazeiro. Ônibus de todos os estados do Nordeste e do Norte de Minas Gerais desembarcaram com os agricultores/as que foram se organizando na concentração e, por volta das 10h, seguiram rumo à cidade de Petrolina pela Ponte Presidente Dutra, que liga os dois municípios. Faixas e bandeiras traziam o sentimento das delegações. “Desarticular é retroceder. A ASA é o povo no Semiárido. Não queremos voltar à Indústria da Seca” dizia a faixa que abria a caminhada. “Não acabe o que vem dando certo. Parceria da ASA/MDS”, pedia outra faixa. “Por um Semiárido mais justo” esse era outro dos dizeres que podiam ser lidos em meio à multidão.

A caminhada reuniu muita gente, inclusive pessoas que ainda não tinham recebido cisternas, mas que estavam lá porque sabiam da importância da ação da ASA para suas comunidades. A agricultora Danúzia da Silva, do município de Dormentes, em Pernambuco era uma dessas pessoas. “A ASA ajudou muito na nossa região, porque a falta de água é muito grande. Não tenho cisterna, mas hoje eu estou muito feliz de participar e representar minha comunidade”.

O agricultor José Miguel de Souza, de Ouricuri, também não tem cisterna em casa, mas estava na caminhada. Questionado sobre o que achava do fim da parceria entre MDS e ASA respondeu: “É só a gente dar o troco ao governo depois, porque foi a gente que colocou ele lá”.

Ato Público


Naidison Baptista falou da importância da ASA como propositora de políticas públicas para o Semiárido
Foto: Ivan Cruz/Asacom

“É hora de transformar o que não dá mais/ Sozinho, isolado, ninguém é capaz/ Por isso vem/ Entra na roda com a gente, também/ Você é muito importante! Vem!”. O refrão da música conclamava os participantes que chegavam da caminhada de Juazeiro para participar do ato público em Petrolina a pedir pela continuidade da política de convivência com o Semiárido desenvolvida pela ASA.

O coordenador da ASA, Naidison Baptista, reforçou a importância da Articulação na construção não apenas das cisternas, mas de uma política pública de convivência com o Semiárido. “A ASA já entregou prontas, funcionando, 372 mil cisternas. Todas elas têm as fotos das pessoas, têm o lugar onde as cisternas estão, podem ser achadas a qualquer momento. São quase 2 milhões de pessoas bebendo água de qualidade e que bebiam lama ou trocavam o seu voto por uma lata de água. Isso está acabando com o nosso trabalho. Nós não vendemos mais o nosso voto”, reforçou.

A agricultora Maria José Ramalho, da comunidade Malhada Branca, no município pernambucano de Buíque, falou em nome dos agricultores e agricultoras presentes, pedindo pela permanência do Programa Um Milhão de Cisternas. “Esse programa não é um programa de construção de cisternas. É um programa de construção de cidadania! Ele não pode ir para as mãos de políticos para que nos tornemos novamente um curral eleitoral”, reiterou Maria José, defendendo que a execução das ações da ASA sem a participação da sociedade civil pode trazer de volta práticas de uso eleitoral das cisternas.

Além dos representantes da ASA e das delegações de agricultores, o ato contou com a presença de integrantes do Consea, da Contag, do MST, além do Bispo Emérito de Petrolina, Dom Paulo Cardoso, que representou a CNBB.

Dom Paulo leu a carta de Dom Genival Freitas, presidente da Regional Nordeste II, que representa as 21 dioceses e arquidioceses de Alagoas, Paraíba e Pernambuco. “A causa abraçada pela ASA está em consonância com a linha das ações mobilizadoras do Regional Nordeste II, através do setor da Pastoral Social. A presidência do regional apresenta, portanto, a ASA como seu representante no ato público de Petrolina e defende a preservação de parcerias que são exitosas e a participação social na construção da cidadania”, dizia um trecho da carta.
 
Cisternas de plástico


Agricultores protestaram contra as cisternas de plástico
Foto: Gleiceani Nogueira/Asacom

O ato também reforçou a posição da ASA contra as cisternas de plástico que já começaram a ser implantadas pelo governo federal. “A cisterna de plástico não emprega nossos pedreiros, não movimenta nosso comércio, não mexe com as comunidades. Ela é um pacote pronto de fora, que gera apenas lucros para as empresas. Quando ela tiver um problema, quem conserta? Quem corrige?”, indagou.

O coordenador pediu ainda que a sociedade civil seja incluída na construção de políticas públicas para o Semiárido. “Nós não admitimos ser excluídos, não admitimos a cisterna de plástico e queremos ser chamados pelo governo para um diálogo maduro onde encontremos soluções reais para os problemas que estamos enfrentando”, frisou Naidison.

Para a agricultora Cleonice Constantino, de Remígio, na Paraíba, a cisterna de placas trouxe muitas mudanças. “Minha cisterna significou muito. Mudou tudo que eu tenho hoje, as verduras e muita coisa que a gente tinha que comprar e hoje temos em casa. Nós queremos mais cisternas para as outras pessoas que não tem. E a cisterna de plástico não tem futuro. As águas ficam quentes e sem vida!”.

Já a agricultora Maria José acredita que a cisterna de plástico não garante a qualidade da água que será consumida pelas famílias. “A gente não quer piscina! A gente quer algo para guardar a nossa água. E a gente quer a nossa água gostosa, não com resíduos de plástico”, concluiu.

* comunicadora popular da ASA
**Asacom

Fonte: Asa Brasil

Dilma: presente natalino aos Nordestinos

Roberto Malvezzi (Gogó)*

15/12/2011

O presente da presidente Dilma ao povo do semiárido nesse Natal já está decidido: uma cisterna de plástico.

A presidente é uma excelente gerente, pessoa íntegra e acima de qualquer suspeita. Quando criou o “Água para Todos” nos encheu de alegria. Afinal, agora iríamos acelerar a construção das cisternas para beber e produzir. Mas, a presidente preferiu doar centenas de milhares de cisternas de plástico para os nordestinos. Descartou o trabalho histórico da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e vai trabalhar exclusivamente com os estados e municípios.

Claro que essa decisão está acima de qualquer interesse eleitoreiro, ou dos coronéis do sertão, ou dos 10% das empresas fabricantes do reservatório. Dilma é uma mulher honrada.

Claro que os empresários enviarão junto com as cisternas pedagogos, exímios conhecedores do semiárido, que farão a educação contextualizada realizada a duras penas por milhares de educadores da ASA. Esses pedagogos evidentemente conhecem o semiárido, o regime das chuvas, a pluviosidade de cada região, como se deve cuidar dos telhados, das calhas. Irão pelo sertão, pelas serras, pelos brejos, gastarão dias de suas vidas em meio às populações para realizar com um cuidado sacerdotal as tarefas que a questão exige.

Claro que os políticos farão, antes de entregar as cisternas, uma crítica ao coronelismo nordestino, ao uso da água como moeda eleitoral, afinal, já superamos os períodos mais aberrantes da política nordestina.

Quando a cisterna quebrar os pedreiros capacitados saberão reparar os estragos, sem depender da empresa e as cisternas de plástico não virarão um amontoado de lixo no sertão.

As empresas também enviarão agrônomos para dialogar com as comunidades como se faz uma horta com a água de cisterna para produção, uma mandala, uma barragem subterrânea, uma irrigação simples por gotejamento. Claro, o interesse das empresas e dos políticos é continuar o trabalho pedagógico da ASA tão premiado no Brasil e outros lugares do mundo.

Não temos, portanto, nada a protestar. A presidente e a ministra Campello são exímias conhecedoras do Nordeste, mesmo tendo nascido no sul e sudeste. Conhecem cada palmo de da região, dessa cultura, cada um de seus costumes. Claro que não nos enviarão mais sapatos furados, roupas rasgadas em tempos de seca, como acontecia antigamente. Até porque o trabalho da ASA eliminou as grandes migrações, a sede, a fome, as frentes de emergência e os saques. Mesmo não sendo nordestinas, nem jamais tendo vivido aqui, conhecem a região melhor que o povo que aqui nasceu ou aqui habita. Portanto, gratos por tanta generosidade.

Vamos conversar com os milhões de beneficiados envolvidos na convivência com o semiárido. Eles vão entender as razões da presidente e da ministra e vão retribuir com a generosidade que lhes é peculiar.

O povo do semiárido jamais esquecerá que, no Natal de 2011, ganhou como presente da presidente Dilma Roussef uma cisterna de plástico.

*Integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Rede Brasil Rural: a agricultura familiar na internet

O Ministério do Desenvolvimento Agrário lança nesta terça-feira (13), em Porto Alegre, a Rede Brasil Rural, uma ferramenta virtual que propiciará aos agricultores familiares, entre outras coisas, comprar insumos, materiais e itens para beneficiamento, além de vender produtos pela internet. “Esse mecanismo digital nos permitirá organizar toda a cadeia produtiva da agricultura familiar, abrangendo serviços, articulação institucional e comercialização", diz ministro Afonso Florence.

Redação (*)

Data: 12/12/2011

O Ministério do Desenvolvimento Agrário lança nesta terça-feira (13), em Porto Alegre, a Rede Brasil Rural, uma ferramenta virtual destinada a aproximar as cooperativas de produtores rurais dos fornecedores de insumos, da logística de transporte e dos consumidores públicos e privados. Essa ferramenta propiciará aos agricultores, entre outras coisas, comprar insumos, materiais e itens para beneficiamento, além de vender produtos pela internet.

O lançamento da rede será às 15h30min, no Cais do Porto, numa solenidade que será comandada pela presidenta Dilma Rousseff. Na ocasião, haverá também a entrega de máquinas retroescavadeiras para 126 prefeituras gaúchas de municípios de até 50 mil habitantes, uma ação coordenada pelo MDA na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, o governo federal, depois de consolidar a ampliação do crédito e a retomada da assistência técnica, está ingressando numa nova geração de políticas públicas para a agricultura familiar. “Esse mecanismo digital – a Rede Brasil Rural -, nos permitirá organizar toda a cadeia produtiva da agricultura familiar – serviços, articulação institucional e comercialização”, explica.

Inicialmente, cerca de 200 mil agricultores familiares usarão integralmente a ferramenta, fazendo compras e vendas. Eles compõem as 100 maiores cooperativas e associações da agricultura familiar do Brasil e detêm um vasto catálogo de produtos diferenciados que vão de cachaças orgânicas a embutidos artesanais, passando por queijos finos, sucos, vinhos, artesanatos de todas as regiões do país e cosméticos elaborados a partir de matérias-primas brasileiras. Este é o catálogo de produtos que compõe o Armazém Virtual da Agricultura Familiar, um dos pilares da Rede.

“O objetivo é reduzir o preço do produto para o consumidor final e aumentar a renda dos agricultores por meio de ganhos de eficiência em cada etapa da cadeia produtiva, preservando a identidade da agricultura familiar”, destaca Afonso Florence.

As demais cooperativas da agricultura familiar de todo o país também poderão expor, já nesse primeiro momento, seus produtos na loja virtual, que funcionará como uma verdadeira vitrine on line para o comércio interessado. O consumidor terá acesso a um Mapa de Ofertas da Agricultura Familiar por estado, município ou por produto. Com esse mapa, ele pode escolher a mercadoria que quiser e recebê-la em sua casa, pelos Correios - transportadora oficial da agricultura familiar nesta parceria. As grandes redes de varejo também são potenciais clientes do Armazém. No atacado, podem negociar o preço em ambiente virtual seguro diretamente com quem produz.

Alimentação escolar

Além de dar agilidade ao sistema de compra e venda cotidiana da agricultura familiar, a Rede tem também o objetivo de reorganizar o sistema de compras da produção familiar pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Isto porque hoje municípios, estados e escolas ainda encontram dificuldades para achar produtores que atendam à demanda da merenda, e os agricultores, por sua vez, muitas vezes carecem de informações sobre abertura de processos de compras. A Rede Brasil Rural surge para solucionar os dois desafios: organizar a oferta de alimentos por tipo de produto, região, estado e município e divulgar a necessidade de compras para a merenda.

Para tal, os gestores da merenda serão usuários da Rede Brasil Rural. Por meio do sistema, cadastram o edital, os produtos de interesse e as condições de compra. Automaticamente, o sistema distribui uma lista de editais para os agricultores, que podem enviar propostas. No final do processo, o sistema também automatiza a prestação de contas para o gestor com controle das Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs). A Lei da Alimentação Escolar prevê que, no mínimo, 30% dos recursos destinados pelo FNDE para a merenda sejam direcionados à compra da produção da Agricultura Familiar.

Crédito do BNDEs

As compras dos agricultores familiares pela nova Rede serão feitas com o cartão do BNDES – que, por enquanto, começa a ser usado pelos 200 mil agricultores familiares ligados às primeiras 100 cooperativas. O banco - que já atende a micro, pequenas e médias empresas -, passará a financiar os empreendimentos familiares pela Rede Brasil Rural. A instituição definiu um limite de negociação de até R$ 1 milhão por cartão, com opção de até cinco cartões por cooperativa, financiamento de três a 48 parcelas e taxa de juros pré-fixada no ato da compra.

Juntamente com o crédito, as cooperativas ampliam as possibilidades de financiamento para além de itens ligados exclusivamente à produção e industrialização (máquinas e insumos). Soluções de internet, comunicação visual, reciclagem, logística e armazenagem são algumas das opções de financiamento.

Da produção ao beneficiamento

A Rede Brasil Rural foi idealizada para solucionar os gargalos da agroindústria familiar, que ainda sofre para encontrar fornecedores de insumos, matérias-primas e itens para beneficiamento que atendam à demanda da produção de menor escala, em quantidade e preço. A parceria com a indústria tem o objetivo de expandir a experiência do programa Mais Alimentos. As novidades estão associadas à oferta de mais insumos e suprimentos para as agroindústrias, como embalagens, e as negociações em forma de “compras coletivas” a serem feitas por meio da Rede. Outra novidade é a possibilidade de ofertar insumos para a agricultura ecológica e orgânica, fomentando a agroecologia.

A logística será outro desafio a ser enfrentado pela Rede Brasil Rural. É um elo fundamental da cadeia da produção familiar, que interfere no preço final do produto: a dificuldade de formação de cargas e as condições das estradas encarecem o valor do frete que acaba sendo incorporado ao preço final do produto.

A nova ferramenta oferece um sistema para planejar o deslocamento de cargas, com cotação de transporte e possibilidade de fretamento conjunto entre cooperativas. O produtor escolhe itinerário, carga e data da entrega e recebe do sistema as ofertas das transportadoras, com opção de fazer contato com o fornecedor para negociar o preço.

(*) As informações são do Ministério do Desenvolvimento Agrário