Por Roberto Malvezzi (Gogó)
Os últimos dados do Censo populacional brasileiro fazem justiça ao que vemos diante dos olhos, isto é, a miséria migrou do campo para as cidades. Hoje, dos 16 milhões de brasileiros nessa situação, 53,3% estão no meio urbano.
Essas periferias imensas, sem saneamento, com esgoto fazendo ilhas nos quarteirões, com várias pessoas morando num barraco de madeira, às margens de rios transformados em canais, mesmo que ganhem cem reais por mês, estão na miséria.
Aliás, para medir a miséria, que diferença faz entre ganhar 65 ou 75 reais? Para os critérios adotados, os primeiros estão abaixo da linha da miséria (R$ 70,00), como se os outros estivessem acima dela...
Mas, o campo, há tanto tempo acusado de ser a barriga da miséria por ruralistas, mídia e corporações técnicas vinculadas ao capital do campo, agora não vão poder mais dizer que o bom é despachar o povo para as cidades, afinal, no campo se vive pior. Não é mais essa realidade que o Censo revela. Agora a miséria é urbana, ao menos em sua maioria.
Claro que persiste a pobreza intensa no campo, inclusive essa miséria aí dos abaixo de 70 reais por mês. Mas, a região semiárida, ao menos já não tem migrações intensas, mortalidade infantil aberrante, frentes de emergência para impedir os genocídios, nem mesmo saques como se falava há dez anos.
Uma boa reforma agrária, a extensão da energia elétrica ao meio rural, a chegada de tecnologias como celular e internet, nossas milagrosas cisternas para beber e produzir, mudaram a cara do campo. A migração intensa se desacelerou e por aqui até se estabilizou.
Não há milagres, não há acaso. Se um em cada dez brasileiros ainda está na miséria (16 milhões), é bom lembrar que um em cada seis ainda vive no campo (29,8 milhões). Portanto, merecem consideração.
Com boas políticas, fome, sede e miséria são vencíveis até no sistema capitalista. Quanto às injustiças estruturais, do modelo, aí só com mais história pela frente.
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