Reforma agrária para o Brasil sem miséria

Por Osvaldo Russo*

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com base no Censo Demográfico 2010, do IBGE, divulgou dados nacionais, regionais e estaduais sobre a extrema pobreza no Brasil. Segundo o ministério, 16,2 milhões de pessoas (8,5% da população total brasileira), residentes em quatro milhões de domicílios, estão em situação de extrema pobreza, ou seja, percebem renda per capita de até R$ 70,00/mês.

Deste total, 53,7% situam-se na área urbana e 46,3% na área rural. Por região, 59,1% residem no Nordeste, 16,8% no Sudeste, 16,3% no Norte, 4,4% no Sul e 3,4% no Centro-Oeste. No Nordeste e Norte, a população rural extremamente pobre representa, respectivamente, 56,4% e 52,5% da população total extremamente pobre dessas regiões.

A população rural extremamente pobre totaliza 7,6 milhões de pessoas residentes em 1,7 milhão de domicílios no Brasil, das quais 1,5 milhão de pessoas em 287 mil domicílios no Norte, 5 milhões de pessoas em 1,2 milhão de domicílios no Nordeste, 581 mil pessoas em 150 mil domicílios no Sudeste, 279 mil pessoas em 24 mil domicílios no Sul e 185 mil pessoas em 31 mil domicílios no Centro-Oeste.

A partir de 2003, com a implantação do Bolsa Família, estabeleceu-se uma nova agenda social no Brasil, unificando, racionalizando e ampliando os programas de transferência de renda. O mais importante fator de promoção do bem-estar da população nos últimos anos tem sido os aumentos reais da renda dos trabalhadores mais pobres, o que se deve não só às políticas de transferência de renda, mas, principalmente, à política de aumento real do salário mínimo e à geração de milhões de empregos formais.

O Brasil também tem implementado diversos programas que beneficiam diretamente à população rural, como o Programa Territórios da Cidadania, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), o Programa de Erradicação do Trabalho Escravo, o Plano Nacional de Trabalho Decente e o Programa Brasil Quilombola. O programa, no entanto, que mais impacto pode trazer para a abolição da extrema pobreza e da pobreza rural constitui o Programa Nacional de Reforma Agrária, com o assentamento e a promoção social dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais.

Embora o Brasil tenha tido um desempenho excelente na redução da fome e da pobreza extrema, os indicadores nacionais encobrem imensas desigualdades internas. Entre essas, as mais importantes são as desigualdades entre as regiões, entre os grupos raciais e entre as zonas rurais e urbanas. A porcentagem de pobres nas zonas rurais caiu bastante, de 51,3%, em 1990, para 12,5% em 2008, diminuindo a diferença em relação às zonas urbanas. Não obstante, em termos relativos, a pobreza rural tem se situado em patamar mais do que três vezes maior do que o da pobreza urbana.

A pesquisa realizada, em 2007, pelo Ibase – Repercussões do Programa Bolsa Família na Segurança Alimentar e Nutricional das Famílias Beneficiadas - aponta que houve avanços nos índices de segurança alimentar e nutricional da população beneficiada com a transferência de renda efetuada pelo Bolsa Família, ainda que permaneça um contingente de famílias que mantém elevados índices de insegurança alimentar.

Ao contrário das décadas de 1950 e 1960, quando a reforma agrária poderia ser uma opção para acelerar a industrialização, hoje se trata de posicioná-la frente às alternativas para o desenvolvimento nacional sustentável e a abolição da pobreza rural. A modernização conservadora já ocorreu e não foi capaz de superar a pobreza. A redistribuição da terra, das condições de produção e do conhecimento não é uma inevitabilidade, mas uma alternativa democrática para a qual há demanda social.

São os pobres em todo o mundo os que mais sofrem com as crises e as desigualdades do capitalismo. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), quase um bilhão de pessoas passam fome no mundo. O agronegócio não é solução para erradicar a pobreza e menos ainda a pobreza extrema. No Brasil, existem quatro milhões de pequenas unidades produtoras agrícolas, entre as quais um milhão nos assentamentos rurais, que respondem por 70% da produção de alimentos.

O Brasil, hoje, está mais preparado para enfrentar novos desafios. É preciso, entretanto, dialogar mais intensamente com os movimentos sociais para que estes sejam parceiros ativos e autônomos nesse diálogo nacional. O Brasil não pode esperar, porque a fome e a pobreza têm pressa, como dizia o saudoso Betinho. É preciso desconcentrar a propriedade, a posse e o uso da terra, que mantêm 46,8% das áreas cadastradas, das quais 133 milhões improdutivas, nas mãos de apenas 1,6% dos proprietários rurais.

O objetivo estratégico a alcançar é combinar a qualificação das políticas de proteção e promoção social, em especial transferência de renda, saúde e educação, e a política de ampliação do acesso a terra e viabilização econômica dos assentamentos. Esse modelo de intervenção pública, integrada e massiva reduzirá drasticamente a pobreza rural e promoverá uma nova abolição no Brasil, erradicando, até 2014, a miséria no campo que hoje atinge 7,6 milhões de pessoas em 1,7 milhão de domicílios rurais.


*Osvaldo Russo, ex-presidente do Incra, é diretor da Companhia de Planejamento do Distrito Federal, Codeplan.

5 anos de CEDASB: mais justiça social para o povo camponês do semiárido


Por Leandra Silva*

O Centro de Convivência e Desenvolvimento do Sudoeste da Bahia – CEDASB completa hoje (11 de maio) 5 anos de vida. Uma vida cronológica curta, porém com uma história permeada de lutas e conquistas que o torna uma entidade referencia no Sudoeste da Bahia no que se refere ao desenvolvimento e implementação de tecnologias para a convivência com o semiárido.

As tecnologias implementadas pelo CEDASB incluem construção de cisternas para o consumo humano, cisternas para produção de alimentos, cisternas para o consumo da comunidade escolar, barreiros trincheiras familiares e comunitários e bomba popular. Além dessas tecnologias, são feitas também limpezas de aguadas.

Além das tecnologias, os Projetos executados pelo CEDASB incluem também capacitações para as famílias beneficiárias. É nas capacitações que as famílias aprendem a gerenciar a água das cisternas, a cuidar dos barreiros e preservar as aguadas.

O trabalho desenvolvido pelo CEDASB, orientado pela metodologia da Articulação no Semiárido Brasileiro - ASA, representa uma ruptura com o paradigma então existente de institucionalização da seca e reprodução das condições de miséria do povo sertanejo. Representa um novo jeito de olhar o semiárido e poder enxergar suas potencialidades possibilitando a construção de uma nova dinâmica de ampliação das capacidades locais para superação das problemáticas e torná-lo um lugar bom de se viver.

Por isso, o CEDASB já tem muito o que comemorar nesses 5 anos. PARABÉNS a todas e todos que contribuem para a construção dessa história que tem em cada camponesa e camponês a sua principal inspiração.

*Estudande de Economia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado

De acordo com estudo da ONU, 1,3 bilhão de toneladas de alimento não são aproveitadas todos os anos

Cerca de um terço dos alimentos produzidos por ano no mundo é desperdiçado, de acordo com um estudo divulgado nesta quarta-feira pela agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Segundo o estudo, que foi elaborado entre agosto de 2010 e janeiro deste ano pelo instituto sueco SIK, 1,3 bilhão de toneladas de alimento são desperdiçados por ano. A quantidade equivale a mais da metade de toda a colheita de grãos no mundo.

O estudo afirma que o mundo emergente e os países desenvolvidos desperdiçam aproximadamente a mesma quantidade de alimentos: 670 milhões de toneladas por ano nos países ricos e 630 milhões nos países em desenvolvimento.

No entanto, eles seguem um padrão diferente de desperdício. Nos países mais pobres ou em desenvolvimento, a maior parte dos alimentos é perdida durante o processo de produção e transporte. Já nas nações mais ricas, a maior parte do desperdício acontece quando os alimentos já foram comprados pelos consumidores.

Segundo o relatório da FAO, nos países ricos muitos alimentos vão para o lixo antes mesmo de expirar a data de validade.

As médias de desperdício per capita também são muito maiores em países industrializados. Na Europa e América do Norte, cada pessoa desperdiça entre 95 a 115 quilos de alimentos por ano. Na África Subsaariana, a média per capita é de seis a 11 quilos.

Impacto ambiental
O relatório destaca o impacto negativo do desperdício no meio ambiente. "Isso invariavelmente significa que grande parte dos recursos empregados na produção de alimentos é usada em vão, e que os gases que provocam o efeito estufa causados pela produção de alimentos que é perdido ou desperdiçado também são emissões em vão", afirma o relatório.

O documento da FAO afirma que no mundo emergente o problema maior é a falta de estrutura produtiva. Já nos países ricos, o principal fator seria o comportamento dos consumidores.
A quantidade total de alimentos desperdiçados nos países industrializados apenas pelos consumidores (222 milhões de toneladas) é quase equivalente à quantidade total de alimentos produzidos na África Subsaariana (230 milhões de toneladas).

Na América Latina, o maior índice de desperdício se dá na produção de frutas e vegetais. Segundo a FAO, mais de 40% das frutas e vegetais produzidos são desperdiçados durante o processo de produção, pós-colheita e embalagem.

Os dados do relatório "Perdas alimentares globais e desperdício alimentar" serão discutidos em um congresso internacional promovido pela FAO em Dusseldorf na próxima semana, intitulado Save Food!.

Greve na UESB completa um mês

Ascom/Adusb

No dia 8 de maio, último domingo, a greve deflagrada pelos professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) completou um mês. Reunida em Assembleia Geral no dia 5 de abril, no campus de Jequié, a categoria decidiu entrar em greve em defesa da universidade pública tendo como principais objetivos a revogação do decreto 12.583/2011, publicado pelo governo do Estado no dia 09 de fevereiro, a assinatura do acordo salarial de 2010 sem a cláusula restritiva imposta de última hora pelo governo, ampliação do quadro docente, aumento de verbas para assistência estudantil e maior transparência no orçamento da universidade.

Para o início do movimento dois fatos foram importantes: a aprovação de um indicativo de greve pela categoria docente, em 01 de março de 2011, e as mobilizações estudantis que tiveram início logo em seguida, possibilitando a convergência das reivindicações de professores e estudantes, culminando com uma paralisação no dia 30 de março. As negociações com o governo, entretanto, não avançaram nesse período, motivando os professores a deliberarem pela greve no dia 5 de abril, decisão tomada com 123 votos favoráveis, 02 abstenções e 01 voto contrário. Já no dia 6 de abril, as crescentes mobilizações estudantis culminaram na deflagração da greve discente na UESB. Seguiram a deliberação por greve também os professores e discentes da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, no dia 06 de abril, e os professores da UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, no dia 11 de abril.

Com o movimento grevista decretado em três das suas quatro universidades estaduais, o Governo do Estado da Bahia agendou reuniões nos dias 12 e 15 de abril para ouvir as demandas das categorias. Na primeira delas, com o secretário de Educação, Oswaldo Barreto, o movimento foi informado da impossibilidade de revogação do decreto 12.583/2011. Na segunda reunião, com o diretor da Coordenação de Desenvolvimento da Educação Superior (CODES), Clóvis Caribé, com o superintendente de Recursos Humanos da Secretaria da Administração (SAEB), Adriano Tambone e com a coordenadora de Articulação Social da Secretaria de Relações Institucionais (SERIN), Meire Cruz e Souza, os professores foram informados que o governo não negociaria com a categoria docente em greve. Para o professor Francisco Cardoso, membro do Comando de Greve Docente, “o que houve foi uma tentativa de redução de palco, na medida em que eles queriam que o movimento docente redigisse uma nova cláusula. Eles devem retirar a cláusula porque ela impede a assinatura de um acordo que havia sido feito anteriormente”, avalia.

A iniciativa do governo não impediu que a Universidade Estadual da Bahia – UNEB deflagrasse a greve no dia 26 de abril, gerando uma paralisação geral nas universidades estaduais baianas. Dois dias após, por meio de nota publicada em jornais, o Governo do Estado anunciou o corte de salários dos professores da UESB, UESC e UEFS, argumentando prejuízos à sociedade. Para o vice-presidente da Associação dos Professores da UESB (ADUSB-SSind), Paulo Cairo, “o corte de salários é um equivoco tanto do ponto de vista político, já que a ação se configura como uma agressão ao direito de greve tendo em vista a legitimidade das reivindicações, quanto do ponto de vista legal, já que a deflagração atendeu os requisitos básicos que a legislação estabelece tendo sido mantido em pleno funcionamento atividades acadêmicas essenciais”, explica.

Por outro lado, as reitorias das quatro Universidades, através do Fórum de Reitores, se posicionaram no último dia 04 de maio emitindo uma nota sobre o corte do pagamento dos salários dos docentes, reconhecendo a gravidade do cenário, a legitimidade da greve e condenando a prática do governo: “O Fórum de Reitores das Universidades Estaduais da Bahia, considerando o contexto atual e a suspensão do pagamento dos salários dos docentes, ato que fere a autonomia universitária (…) entende que a melhoria das condições de trabalho e de funcionamento são anseios legítimos para a construção desse referencial de Universidade, que toda a comunidade universitária e a sociedade baiana desejam”, diz trechos da Nota.

Balanço das negociações

Com um mês de greve em curso, apesar das reuniões ocorridas, as negociações não avançaram por conta da posição do governo de apresentar novas redações da cláusula imposta ao acordo final da campanha salarial. “O governo mantém rigorosamente a essência da cláusula restritiva e, em vez de afirmar, como antes, que as reivindicações que resultem em impacto orçamentário só seriam admitidas a partir de 2015, o governo simplesmente exige que ganhos reais não mais poderão ser apresentadas até 2014. Na prática, as duas afirmativas são como trocar seis por meia-dúzia”, avalia Paulo Cairo. Outro fator agravante foi a tentativa de esvaziamento da greve com o corte salarial, que, no entanto, não surtiu efeito já que, em Assembleia Geral, no dia 02 de maio, em Vitória da Conquista “os professores decidiram manter a paralisação por tempo indeterminado”, complementou Cairo.

Mesmo em greve e sem salário, a categoria tem mantido o processo de mobilização e realizado ações com o objetivo de dar visibilidade social às reivindicações e congregar os docentes no sentido de fortalecer o movimento. “Entendemos que as mobilizações possuem como princípio tanto a defesa da educação pública, seja ela em nível superior, médio e fundamental como a ampliação do contato com as entidades dos demais servidores estaduais, que também estão insatisfeitos com as políticas do Governo do Estado”, afirma a professora Suzane Souza, membro do Comando de Greve Docente da UESB. Tais ações já motivaram sessões conjuntas na Câmara Municipal de Vitória da Conquista, com a participação dos servidores municipais da educação, além de uma Sessão Especial na Câmara de Vereadores de Jequié e visita à Assembleia Legislativa do Estado. Essas ações são complementadas com reuniões constante de professores de diversos cursos que têm se reunido para deliberar sobre as solicitações que chegam aos departamentos e colegiados, bem como a manutenção de aulas nos cursos de pós-graduação (Mestrado e Doutorado), liberação dos estágios supervisionados e a realização de eventos (congressos e encontros) no âmbito da universidade.

Durante este período, a realização da Assembleia Universitária, que não ocorria há 10 anos na UESB, é considerada um avanço na luta em defesa da Universidade Pública. Nas seções da Assembléia Universitária, os professores, alunos e servidores da instituição, de forma igualitária, podem apresentar as suas demandas e propostas e traçar metas referentes ao movimento das três categorias e debater o papel da UESB na sociedade baiana.

Após um mês de greve, os professores da UESB continuam mobilizados e fortalecidos em um movimento que conseguiu incorporar reivindicações estudantis. Segundo o professor Kleber Silva Rocha, membro do Comando de Greve Docente, “o movimento conseguiu mostrar ao público em geral que essa mobilização não é somente pela questão salarial dos professores, mas em defesa da Universidade Pública e de uma política estadual para a educação. Precisamos, agora, dar mais atenção as questões relacionadas a administração da própria UESB e o descaso da reitoria com as reivindicações do movimento”, finaliza.

A miséria mora nas cidades

Por Roberto Malvezzi (Gogó)

Os últimos dados do Censo populacional brasileiro fazem justiça ao que vemos diante dos olhos, isto é, a miséria migrou do campo para as cidades. Hoje, dos 16 milhões de brasileiros nessa situação, 53,3% estão no meio urbano.

Essas periferias imensas, sem saneamento, com esgoto fazendo ilhas nos quarteirões, com várias pessoas morando num barraco de madeira, às margens de rios transformados em canais, mesmo que ganhem cem reais por mês, estão na miséria.

Aliás, para medir a miséria, que diferença faz entre ganhar 65 ou 75 reais? Para os critérios adotados, os primeiros estão abaixo da linha da miséria (R$ 70,00), como se os outros estivessem acima dela...

Mas, o campo, há tanto tempo acusado de ser a barriga da miséria por ruralistas, mídia e corporações técnicas vinculadas ao capital do campo, agora não vão poder mais dizer que o bom é despachar o povo para as cidades, afinal, no campo se vive pior. Não é mais essa realidade que o Censo revela. Agora a miséria é urbana, ao menos em sua maioria.

Claro que persiste a pobreza intensa no campo, inclusive essa miséria aí dos abaixo de 70 reais por mês. Mas, a região semiárida, ao menos já não tem migrações intensas, mortalidade infantil aberrante, frentes de emergência para impedir os genocídios, nem mesmo saques como se falava há dez anos.

Uma boa reforma agrária, a extensão da energia elétrica ao meio rural, a chegada de tecnologias como celular e internet, nossas milagrosas cisternas para beber e produzir, mudaram a cara do campo. A migração intensa se desacelerou e por aqui até se estabilizou.

Não há milagres, não há acaso. Se um em cada dez brasileiros ainda está na miséria (16 milhões), é bom lembrar que um em cada seis ainda vive no campo (29,8 milhões). Portanto, merecem consideração.

Com boas políticas, fome, sede e miséria são vencíveis até no sistema capitalista. Quanto às injustiças estruturais, do modelo, aí só com mais história pela frente.

Experiência brasileira de erradicação da pobreza chama a atenção do Banco Mundial

Renata Giraldi

Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Banco Mundial quer detalhes sobre a execução do Plano Brasil sem Miséria, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e anunciado ontem (3). A instituição também quer maiores informações sobre o Programa Bolsa Família. Ambos servirão de base a um plano internacional para a próxima década, cujo foco é a renovação das estratégias de atuação nas áreas de proteção social e trabalho.

O Brasil é o único país latino-americano cujos projetos sociais serão tomados como referência para a execução de um plano mundial. O secretário executivo do MDS, Rômulo Paes de Sousa, esteve na semana passada em Paris, na reunião do Bird, para definir os pilares que sustentarão esse planejamento internacional.

Paes de Sousa disse à Agência Brasil que há consenso geral de que as medidas adotadas se sustentem em políticas públicas de geração de trabalho e transferência de renda. A ideia, segundo ele, é adotar um plano mundial que estimule a inclusão produtiva, que tenha tenha uma abordagem conjunta, mas que respeite as distinções entre as necessidades dos moradores das zonas rural e urbana.

“A experiência já mostrou ao mundo que nem sempre o que é aplicado em um país pode ser usado em outro. Mas as experiência bem-sucedidas podem e devem ser tomadas como exemplos e adaptadas às necessidades de cada região para que assim funcionem”, afirmou o secretário. “Há consenso geral sobre o que não deve ocorrer.”

Paes de Sousa disse que tanto o Bird quanto especialistas dos países em desenvolvimento elogiaram os avanços sociais registrados no Brasil durante as reuniões em Paris. Ao apresentar o modelo brasileiro, destacando o Bolsa Família e o futuro Plano Brasil sem Miséria, o secretário disse que ouviu das autoridades estrangeiras elogios e perguntas sobre detalhes dos programas.

Aos estrangeiros, o secretário afirmou que a política social do governo brasileiro se baseia no tratamento não comercial do tema, no envolvimento de setores distintos dos governos federal, estaduais e municipais, na elaboração de um cadastro eficiente com os nomes dos beneficiados e seus históricos, a integração entre os programas e a associação desses elementos com o “Estado forte e sólido”.

Segundo Paes de Sousa, o principal impasse dos países em desenvolvimento é definir se aguardam os resultados do crescimento econômico ou se o associam à execução de políticas sociais. Para o Brasil, o ideal é adotar um sistema associado, o que ocorre desde a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com o secretário.

Além do Brasil, foram chamados pelo Banco Mundial para mostrar suas experiências autoridades da Costa Rica, da Libéria, da China, do Bahrein, dos Estados Unidos e da Rússia.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome informou que de 2003 a 2008 aproximadamente 24,1 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza. Os programas de transferência de renda condicionada, como o Bolsa Família, atendem a cerca de 12,9 milhões de famílias. De 2003 a 2010, mais de 13 milhões de empregos formais foram criados.

 
Edição: Graça Adjuto
 

Índice de pobreza no Brasil cai 50% em oito anos

A pobreza no Brasil caiu 50,64% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010, período em que Luiz Inácio Lula da Silva esteve à frente da presidência da República. O dado consta da pesquisa divulgada nesta terça-feira, 3, pelo professor do Centro de Politica Social da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Marcelo Neri. O critério da FGV para definir pobreza é uma renda per capita abaixo de R$ 151. A desigualdade dos brasileiros, segundo ele, atingiu o 'piso histórico' desde que começou a ser calculada na década de 60.

O estudo toma como base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad) e Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Pela pesquisa, a renda dos 50% mais pobres cresceu 67,93% entre dezembro de 2000 e dezembro de 2010. No mesmo período, a renda dos 10% mais ricos cresceu 10%.

Desigualdade
A desigualdade de renda dos brasileiros caiu nos anos 2000 para o menor patamar desde que começou a ser calculada, mas ainda está abaixo do padrão dos países desenvolvidos, segundo Neri. Ele tomou como base para o estudo o índice de Gini, que começou a ser calculado nos anos 60. Com esse resultado, o País recuperou todo o crescimento da desigualdade registrado nas décadas de 60 a 80.

O índice Gini brasileiro está em 0,5304, acima do taxa de 0,42 dos Estados Unidos. Quanto mais próximo do número 1, maior a desigualdade. 'Acredito que ainda vai demorar mais uns 30 anos para que possamos chegar aos níveis dos EUA', estimou Neri.

Para o professor da FGV, o aumento da escolaridade e o crescimento dos programas sociais do governo foram os principais responsáveis pela queda da diferença de renda dos brasileiros mais ricos e mais pobres entre 2001 e 2009. 'Isso mostra que a China não é aqui', afirmou. E completou: 'O grande personagem dessa revolução é o aumento da escolaridade. Mas, ainda temos a mesma escolaridade do Zimbábue', mostrando que há um longo caminho a ser percorrido.

Entre os 20% mais pobres, a escolaridade avançou 55,6%, enquanto entre os 20% mais ricos, aumentou 8,12%. Outro fato que, para Neri, ajuda a entender a redução da desigualdade é o fato de pessoas de cor preta terem ganho aumentos de 43% no período, enquanto os brancos tiveram 21%.

Fonte: Estadão

Mobilizações marcam o 1º de maio na América Latina

Por Camila Maciel*

"A cada segundo acontecem 205 acidentes de trabalho no mundo, nos quais morrem 4 trabalhadores”, denuncia o Comunicado de 1º de maio assinado por organizações venezuelanas. Tal denúncia demonstra que, mesmo passados 125 anos do Massacre de Chicago, ainda há muito a se avançar quando o tema é o mundo do trabalho. Este domingo, Dia do Trabalhador, será marcado por celebrações e luta na América Latina.

A redução da carga horária para seis horas, sem redução de salários, estará presente como bandeira de muitas Centrais Sindicais, como Venezuela e Brasil. Assim como esteve na pauta dos trabalhadores de Chicago, em 1º de maio de 1886, quando 80 mil trabalhadores foram às ruas para reivindicar a redução da jornada de trabalho. O resultado da mobilização gerou uma greve nacional: demissões, prisões e mortes.

"As conquistas democráticas alcançadas até agora não são suficientes, é necessário que nos coloquemos na vanguarda política e organizativa para dirigir e construir o novo Estado”, diz o Comunicado da Venezuela. Dentre as pautas apontadas pelo movimento estão: lei orgânica de proteção e defesa dos trabalhadores, aumento do salário e congelamento dos preços, construção de conselhos de trabalhadores, confisco e prisão para os assassinos de trabalhadores da cidade e do campo.

Na Bolívia, a concentração dos trabalhadores ligados à Liga de Trabalhadores Revolucionária pela Quarta Internacional (LOR – CI) se dará na Casa de Cultura, em La Paz. Eles marcharão contra as nacionalizações do governo que, segundo o Manifesto assinado pela LOR-CI, "só permitiram que as transnacionais se beneficiem com as indenizações”.

Debates, marchas e shows fazem parte da programação propostas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Brasil. Dentre as bandeiras de luta que a CUT aponta para este ano, está a substituição do imposto sindical por uma contribuição negocial, que seria definida em assembleia pelos trabalhadores. A União Geral dos Trabalhadores (UGT), outra central sindical brasileira, aponta como uma de suas pautas a redução da jornada de trabalho sem redução de salário.

Uma mobilização de massa é a convocação da Central Única de Trabalhadores (CUT) do Chile, o ponto de encontro será a Estação Central. O lema da manifestação é "Por seus direitos” será um ponto de partida para as mobilizações que se seguirão contra o governo de Sebastián Piñera que, segundo a Central, não trouxe nenhum avanço para a melhoria das condições de trabalho e segurança dos trabalhadores no país.

Em Cuba, um desfile popular marcará o "dia mundial do proletariado”, como chama a Central de Trabalhadores de Cuba. Em comunicado no site, a Central convida todos a participarem do desfile, o qual uma das razões para participar seria demonstrar "o apoio dos trabalhadores e do povo aos acordos do VI Congresso do Partido Comunista de Cuba e reafirmando a unidade em torno do Partido, da Revolução, de Fidel e Raúl”.

"el apoyo de los trabajadores y el pueblo a los acuerdos del VI Congreso del Partido Comunista de Cuba y reafirmando la unidad en torno al Partido, la Revolución, a Fidel y a Raúl".

Trabalhadores peruanos, por sua vez, organizados pela Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP) participaram de uma marcha na última quinta-feira (28) pela segurança e saúde no trabalho. E neste domingo, realizam marcha, saindo da Praça de Maio.

Com informações das Centrais Sindicais.

*Jornalista da Adital