Rediscutindo o valor da diversidade

Por Lilian Milena

Em entrevista ao Brasilianas.org, a socióloga e doutora em economia Tânia Bacelar falou sobre a sua experiência no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão". 
Ela nos convida a rediscutir o valor da diversidade brasileira e prosseguir na desconstrução da lógica dos investimentos centralizados no Sul e Sudeste, com o foco na ideia de nação, onde todos devem contribuir para reequilibrar as forças territoriais. Defende também a proposta de um país policentrico, e conhece os desafios e ações que podem solucionar o problema da miséria no semi-árido nordestino, afinal de contas, foram 30 anos trabalhando na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene.

Tânia Bacelar de Araújo é hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A socióloga e doutora em economia falou ao Brasilianas.org sobre a sua experiência no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, criado para assessorar as decisões da Presidência da República, e formado por 13 ministérios e 90 representantes da sociedade civil.
Dentre os avanços do Conselhão está a criação de comissões para discutir diferentes temas, “assim se inscrevia na comissão quem achava que tinha alguma contribuição”, conta. A seu ver, a nova organização resultou em trabalhos mais concretos. Foram formados grupos para discutir a reforma tributária, de acompanhamento das obras do PAC e, no auge da crise, um para analisar e sugerir medidas anticíclicas ao governo.
Alguns, lembra Tânia, não foram bem sucedidos, como o grupo da redução da jornada de trabalho. “Quando tem divergências [de opinião, a discussão] para, não anda. E a jornada de trabalho foi uma que não andou nem um pouquinho”, completa. Por isso, o conselho optou por priorizar temas onde a maioria dos representantes convergia seus interesses, com o objetivo de acelerar a tomada de decisões políticas.


Tânia também falou do papel da União na inclusão econômica do semi-árido, e considera as ações do governo muito tímidas para mudar de uma vez por todas a miséria histórica no local. As bases produtivas dessa região devem conviver com realidade do seu ecossistema, assim a professora sugere investimentos na criação de animais resistentes à seca, como caprinos, no lugar de bovinos – a Embrapa teria papel fundamental para ensinar as técnicas de criação dessas espécies.

A professora destaca que regiões nos estados do Ceará e Piauí tentam superar o atraso econômico com a produção bem sucedida de castanha e mel. E enfatiza que falta no Nordeste um grande debate sobre os impactos da transposição do rio São Francisco: “Qual é o espaço do pequeno produtor, do agricultor familiar, no projeto de desenvolvimento agropecuário a partir da transposição?” questiona. Acompanhe a entrevista:


Brasilianas.org – Continuará fazendo parte do Conselhão [Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social/CDES]?


Tânia Bacelar - Não sei, porque é convite do presidente. Na minha visão terminei o meu mandato. Podem reconduzir, ou não. Pelo menos com o Lula foi assim, no segundo mandato ele reconduziu várias pessoas – incluindo eu. Então considero que meu mandato acabou, mas pode ser reconduzido, sem problemas.

Brasilianas.org – Com relação ao modelo de funcionamento do conselho, acha que ele deve ser seguido pela Dilma ou sugere alguma modificação, já que participou dos debates?


Tânia Bacelar – Não, eu gostei. Veja, eu entrei de pé atrás, lhe confesso. Porque, na verdade você não está ali como representante, está ali como convidado do presidente. Então, por exemplo, tinham pessoas bastante representativas – gente da Federação das Indústrias de São Paulo [Fiesp], da Febraban [Federação Brasileira dos Bancos], dos movimentos sociais, da Contag [Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura].
Tinha uma diversidade muito grande a convite do presidente. Porque, na verdade, ele entende esse conselho como um conselho consultivo da presidência, que está ali para sugerir, criticar…
Achei muito interessante a experiência. Acho que a gente contribuiu… No começo não sabíamos muito bem qual era nosso papel, até onde a gente ia, entendeu?
Então, por exemplo, no último mandato a gente criou um Comitê Gestor do Conselho, não estava previsto. Para quê? Para a gente também influir na pauta. Então, hoje tem um comitê com alguns conselheiros que a gente elegeu, e eles fazem a ponte entre o conselho e a presidência. Tinha temas que o presidente queria nos ouvir e tinha temas que a gente queria ouvir o governo. E esse conselho gestor faz esse meio de campo, digamos.
Esse foi um avanço que tivemos, e passamos a ser mais proativos, porque a pauta era antes toda feita pela secretaria de relações da presidência. A criação desse comitê gestor foi boa, e foi iniciativa nossa, não do governo. E acho que a forma da gente trabalhar em comissões, também é boa. Porque, veja, tem o Conselhão, que tem reuniões, de quatro em quatro meses, seis em seis meses… mas, no dia a dia, funciona como uma espécie de comissões temáticas.
Por exemplo, na reforma tributária, a gente fez uma comissão que acompanhou as discussões da reforma tributária. Para o PAC, a gente fez uma comissão que acompanhou o programa de infra-estrutura. No auge da crise de 2009, teve uma comissão que acompanhou as medidas anticíclicas do governo. Então, essa maneira de trabalhar em comissões era muito interessante, porque se inscrevia na comissão quem achava que tinha alguma contribuição naquele tema, e o presidente ouvia.
O resultado desse trabalho era concreto, porque aí a reunião acontecia várias vezes, chamava-se a assessoria do governo, ou de fora do governo, para orientar, e aí a gente apresenta resultados proficientes que eram interessantes.

Brasilianas.org – São tatos representantes de organizações civis diferentes, e parece que é difícil entrar num acordo, inclusive entre os ministérios…


Tânia Bacelar – Entre nós também. Tiveram muitos temas que a gente não entrava em acordo, por exemplo, a defesa da redução da jornada de trabalho não passou de jeito nenhum. Bateu e voltou.


Brasilianas.org – Mas, de maneira geral, os representantes de todas as organizações civis eram escutados?


Tânia Bacelar – Eram. Agora, às vezes havia concordância, e às vezes, não. Então, geralmente, a gente trabalhava as nossas convergências. Então o desafio era [chegar no ponto] onde nós convergíamos.

Brasilianas.org – Faz sentido, porque pelo menos teve um andamento…


Tânia Bacelar – Quando tem divergências, para, não anda.


Brasilianas.org – Não anda nem um pouco?


Tânia Bacelar – Não. A jornada de trabalho não andou nem um pouquinho. Mas os sindicatos continuam defendendo, não desistiram só porque não passou no plenário do conselho. Eles vão é discutir em outros fóruns. Isso é um sinal de que a sociedade vai resistir.

Brasilianas.org – Voltando agora pra sua especialidade que é desenvolvimento regional, o país tem passado por um período importante de crescimento e diminuição das desigualdades. O governo ainda tem muito o que contribuir antes que regiões historicamente mais pobres tenham condições de se auto desenvolver?


Tânia Bacelar – Todos os estudos que a gente tem mostram que os padrões socioeconômicos de Norte e Nordeste são ainda muito inferiores aos padrões de Sul e Sudeste, e mesmo de grande parte do Centro-Oeste.


Brasilianas.org – Tem como fazer uma comparação de anos de diferença?


Tânia Bacelar – Qualquer indicador social de renome – tenho uns dez mapas para te mandar – IDH, nível de escolaridade, esperança de vida, nível de renda – em qualquer indicador que você tome verá claramente que o padrão Norte/Nordeste é um, e o padrão Sul/Sudeste/Centro-Oeste é outro. Isso significa que tem um hiato regional entre eles e, portanto, tem que haver mais políticas públicas para Norte e Nordeste.
Agora, quando você desembarca dentro do Sul e Sudeste, verá que tem um pedaço do Sudeste rico e um pedaço do Sudeste pobre, onde as desigualdades se reproduzem numa escala menor. Então dentro da cidade de São Paulo você tem um oeste mais pobre que o leste. Logo, é preciso concentrar mais políticas públicas no oeste do que no leste.

Brasilianas.org – Agora, qual é o papel da União em definir políticas que contribuam para solucionar essas desigualdades tanto dentro do Nordeste quanto…


Tânia Bacelar – A União tem um papel fundamental porque na receita pública do Brasil a fatia maior do Leão está com a União, que tem mais de 50% da receita pública, os estados tem vinte e pouco por cento e os municípios 20%. Logo a União tem responsabilidade maior do que estados e municípios. Por exemplo, com São Paulo que é mais rico, a União pode exigir uma contrapartida maior. Pode trabalhar junto, mas exigindo uma contrapartida maior. Já num estado pobre como Alagoas, por exemplo, a União já deve exigir menos. A União não deve trabalhar sozinha, mas junto a estados e municípios.

Brasilianas.org – Quando tem um programa como o PAC, a gente vê que a porcentagem de contra-partidas são equivalentes em todas as regiões…


Tânia Bacelar – Mas o PAC botou mais no Nordeste. [O PAC] é desconcentrador e priorizou Norte e Nordeste. Uma novidade. [Assim como as políticas sociais], como melhora do salário mínimo. Foi para todo o país, mas o impacto maior é aqui – 50% da população que recebe um salário mínimo no Brasil mora nas regiões Norte e Nordeste.


Brasilianas.org – Por ter trabalhado 30 anos na Sudene, preciso perguntar, qual seria a estratégia para inclusão econômica do semi-árido e se o último governo tem tomado ações para isso, ou ainda as políticas, as decisões nesse sentido, estão muito aquém do que seria ideal para resolver o problema social, ali?


Tânia Bacelar – Estão muito aquém. Muito aquém. Acho que o governo avançou, mas o desafio é muito maior. O semi-árido é um dos maiores bolsões de pobreza do país. E, ele perdeu a base econômica dele, que era o algodão articulado com a pecuária e com a produção de alimentos. O algodão sumiu. Nos anos 1980 teve uma praga do bicudo, e nos anos 1990 com a abertura econômica do Brasil, ficou mais barato você importar algodão do que produzir aqui. E quando voltamos a produzir algodão, hoje é mais competitivo produzir algodão no Sudeste do que no semi-árido do Nordeste.
O semi-árido tem um problema, hoje, que é de recompor sua base econômica. Ele é o semi-árido do mundo mais densamente povoado. Precisa de políticas sociais e também de políticas econômicas.


Brasilianas.org – Quais que seriam as políticas econômicas?


Tânia Bacelar – Daí tem um debate muito importante que você teria que ter bases produtivas que convivessem com a realidade do ecossistema. O semi-árido antigamente tinha o algodão e pecuária, e as culturas de subsistência, mas você tinha o grande latifúndio, e a maioria das pessoas que trabalhavam ali não eram proprietários, eram parceiros, rendeiros, meeiros. Mesmo no ano bom que chovia essas pessoas produziam, mas não acumulavam, e aí elas ficavam vulneráveis no ano que não era bom, por isso que tinha seca com problema social e econômico.
Então esse modelão era ruim socialmente. É preciso agora encontrar um modelo econômico que conviva com a região que a gente já sabe que vai ter ano que não chove.

Brasilianas.org – Medidas como o programa de Agricultura Familiar, com relação ao programa do biodiesel…


Tânia Bacelar – É, mas não deu certo. O produto que o governo investiu, na Embrapa, sempre mostrou que era um produto complicado, a não ser o uso industrial da mamona. Mas essa pode ser uma linha. Por exemplo, a usina caprinocultura é uma linha que se discute muito aqui. A gente produzia a pecuária, mas era a pecuária de corte, era o boi grande, a vaca, que se alimentam muito. Então tem uma outra cadeia de cultura que é a ovinocapricultura, que você deve incentivar no nordeste, porque você faz queijo, faz leite. Aliás, você faz coisas maravilhosas. A carne de bode é mais saudável que a de boi. Os restaurantes do Sudeste, hoje, consomem tudo que a gente produz. É uma cadeia produtiva. É uma saída economicamente viável.
Mas aí você tem que pesquisar o manejo dessa cabra. Pesquisar sobre a alimentação para que a carne fique mais macia, do jeito que a Embrapa faz para animais de grande porte, tem que se fazer para isso.


Brasilianas.org – Pelo jeito que você fala isso já está sendo reconhecido, certo?


Tânia Bacelar – Está sendo reconhecido, e a Embrapa está junto, no semi-árido mesmo.

Brasilianas.org – E o impacto da transposição do rio São Francisco no semi-árido?


Tânia Bacelar – A transposição vai abrir outra discussão importante, porque a água dela vai regularizar vários rios, várias bacias intermitentes [que secavam no verão]. Com a transposição você irá interligar essas bacias ao São Francisco e nelas terá água o tempo todo. E aí tem muitos lugares no Nordeste que tinha terra boa mas não tinha água. Agora vai ter terra boa e água. Então a água do São Francisco vai servir para alimentar o consumo humano. Foi justificada a transposição por isso – o grande argumento de Lula foi: “não posso negar água a 2 milhões de pessoas”.
É para consumo humano e também pra consumo produtivo. Então o Nordeste precisa fazer o debate de como vai fazer com as terras boas que agora vão ter água.

Brasilianas.org – Exatamente. Porque tem também a questão dos açudes. Quando vieram os investimentos em açudes muitos foram construídos dentro de grandes propriedades. Como evitar?


Tânia Bacelar – É a mesma questão. Então vamos discutir agora… porque agora vai ter água e as terras vão ser bastante valorizadas. A irrigação vai ser rediscutida no Nordeste. Do mesmo modo que fizemos em Petrolina, no Vale do Açu, onde o Nordeste de hoje é grande produtor de frutas, no Vale do Parnaíba vai acontecer. Acho que esse é um grande debate que tem que ser feito no Nordeste: é tudo para os grandes? Tudo empresarial? Qual é o espaço do pequeno produtor, do agricultor familiar no projeto de desenvolvimento agropecuário a partir da transposição? Acho que isso é um bom debate.


Brasilianas.org – A senhora falou da produção de caprinos entre as alternativas para o desenvolvimento local do Nordeste. Tem alguma outra?


Tânia Bacelar – Têm várias. O Piauí, hoje, por exemplo, é um grande produtor de mel, exporta esse produto. O Ceará é grande produtor de castanha. O semi-árido tem várias riquezas, ele é muito diferenciado.


Brasilianas.org – Então o que faltou mesmo foi política pública?


Tânia Bacelar – Sim, falta de investimentos. Até flor dá no semi-árido, tem várias cooperativas hoje, na maioria formada por mulheres, produzindo flores tropicais no semi-árido. Alternativas têm, o que falta é investimentos para administrar o capital humano, o conhecimento, é isso que precisa.


Brasilianas.org – Gostaria de saber, do seu ponto de vista, se tiveram erros ou falhas estratégicas nos programas que o governo realizou para acabar com a pobreza, que Dilma deve prestar atenção para não repetir?


Tânia Bacelar – Por exemplo, o programa de acesso a água pro mundo rural, acho que foi tímido. Existe um programa de 1 milhão de cisternas, que zeraria o problema da demanda de água nessa população rural atomizada do Nordeste. Foi feito 300 mil, quase 400 mil, nem metade. A presidente agora está dizendo que vai levar água a todas as casas do Brasil. Eu gostei da meta dela.


Brasilianas.org – E a meta seria além desse 1 milhão que eles propõe?


Tânia Bacelar – Aqui seria 1 milhão para atender a população rural atomizada – essa população rural é uma casinha aqui, outra acolá. Não dá pra fazer adutoras. Aí você tem que fazer uma oferta de pequena escala que é a cisterna. E é barata, é mil e poucos reais.


Brasilianas.org – E não houve explicação para a construção dessas 300 mil?


Tânia Bacelar – Eles dizem que foi por falta de capacidade operacional. Eu nunca entendi.

Brasilianas.org - Que medidas, então, o governo deveria manter para diminuir as disparidades regionais e quais necessitaria implantar?


Tânia Bacelar – Acho que fazer como Lula fez. Passou na frente dele, ele pergunta: “vai botar onde? Bota mais onde tem menos aí”. Então, ele ampliou a rede de escolas técnicas. Você olha o mapa dele, é um bom mapa. No Norte, Nordeste, Sudeste, ele botou o que não tinha. A lógica é botar mais onde tem menos. É um bom critério para presidente usar, tudo que passar na frente dela ela tem que perguntar: vai para onde? Deixa eu conferir se vai para onde tem menos.

Brasilianas.org – A senhora defende a idéia do país policentrico, não?


Tânia Bacelar – Esse é um desafio interessante para o Brasil. É o seguinte, as cidades médias do Brasil, do interior, estão crescendo bastante – até o CENSO vai mostrar isso – a taxa de crescimento das cidades médias, quero dizer de 100 mil, 200 mil, até 1 milhão [de habitantes], está muito dinâmicas. E é isso que chamo de um país policentrico. Em vez de fazer o que sempre fizemos, que foi concentrar investimentos em grandes cidades, a grande maioria pendurada no litoral, [vamos colocar] no Brasil que está pulsando no interior. Tem cidades médias muito interessantes e você tem que correr para cima delas enquanto é barato fazer delas boas cidades. Para você fazer hoje um investimento que desafogue São Paulo, é muito caro, porque já está tudo ocupado. Então se você vai passar o metrô, tem que tirar não sei quantas casas. Então bota a linha de metrô onde ainda tem 300 mil [habitantes].


Brasilianas.org – Mas é aquele velho sentido, o pouco que você faz num lugar que falta muito favorece mais o crescimento…


Tânia Bacelar – E é mais barato. Por exemplo, Curitiba fez o sistema de transporte dela quando tinha 500 mil habitantes e ainda hoje é a melhor capital em qualidade de vida do Brasil, porque cuidou cedo de uma infra-estrutura que organizou o crescimento da cidade e foi barato, seria muito mais caro fazer hoje depois que a cidade foi ocupada.


Então é isso que a gente defende, que o governo tenha um programa das cidades médias para levar saneamento, transporte coletivo, para urbanizar fisicamente o crescimento dessas cidades, porque são cidades muito boas – a exemplo de Maringá, Londrina, várias do Sudeste, e do Sul, no Centro-Oeste também está cheio, a cidade de Paranaíba, muito boa, até Petrolina, Juazeiro. São cidades muito boas com 500 mil habitantes. E é barato atuar nelas. Caro é atuar, por exemplo, em Belo Horizonte, São Paulo, onde para fazer tem que desfazer. Melhor é cuidar cedo.


Brasilianas.org – A diversidade brasileira também foi mal aproveitada, historicamente, para o desenvolvimento do próprio país. Queria que você explicasse rapidamente porque isso perdurou por tanto tempo…e se…


Tânia Bacelar – Isso foi um desvio forte no século XX quando a gente fez a indústria brasileira, que foi muito concentrada num lugar só – São Paulo e a região Sudeste em geral – fazendo o país perder de vista que também tem outros potenciais em muitos outros lugares. E uma das grandes riquezas do Brasil é porque ele é muito grande, diversificado, então cada lugar tem potencial.


O que chamamos de aproveitar a diversidade é procurar tirar proveito dessa condição. O que a gente já vem fazendo. O auge dessa concentração ficou nos anos 1970. Desde então vem ocorrendo a desindustrialização de São Paulo. Quem olha o mapa da indústria hoje vê que está bem mais desconcentrada do que era na década de 1970.

Brasilianas.org – Dentre os motivos da desindustrialização em São Paulo está a chamada guerra fiscal… até que ponto ela boa, então?


Tânia Bacelar – Isso não acabou ainda [guerra fiscal]. E eu sou contra ela. Acho que é uma guerra que ninguém ganha, porque a gente termina dando pra quem não precisa. Ouvi vários depoimentos de empresários que fizeram um estudo de mercado. Dava para ficar mais ou menos em torno de tal lugar, daí eles vão para um governador de um estado e perguntam “me dá quanto?”, vão para outro e perguntam também “me dá quanto?”. Por exemplo, a Volkswagen fez isso quando botou uma fábrica em Rezende. Fez um estudo de localização – dava para botar próximo a São Paulo e Rio de Janeiro, que estava bom. O Rio de Janeiro deu mais e levou. Então, deu o que não precisava dar.

Brasilianas.org – Voltando a ideia do país policentrico, isso chegou a ser discutido dentro do Conselhão?


Tânia Bacelar – O ideia do país policentrico vem de um estudo que foi coordenado pelo CGEE [Centro de Gestão de Estudos Estratégicos], encomendado pelo Ministério do Planejamento, e quem puxou o estudo foi Clélio Campolina Diniz, que hoje é reitor da Universidade Federal de Minas. Ele foi divulgado em 2008, e não foi utilizado, porque na época o PAC já tinha tomado conta do PPA [Plano Plurianual]. Mas está na hora de tirar ele da gaveta já que será feito um novo PPA.

Brasilianas.org – Gostaria de saber, aproveitando, se já tem alguma opinião formada sobre o novo PAC contra a miséria anunciada pelo novo governo. Tem alguma sugestão a fazer para a presidente?


Tânia Bacelar – Uma sugestão que faria é ela valorizar essa abordagem territorial, porque a miséria no Brasil tem endereço. A miséria rural é mais Nordestina e nortista, e a miséria urbana é da periferia das grandes cidades, e aí ela é Sudeste também. O Sudeste tem 25% do Bolsa Família, o Nordeste tem 55% – então o Sudeste é a segunda região que mais recebe do Bolsa Família, porque o segundo endereço da pobreza brasileira são as periferias urbanas. Então adotar uma abordagem territorial é interessante porque você trata aquele local. Miséria não é só não ter renda, é também não ter escola, não ter acesso à saúde.
Quando você trabalha territorialmente, consegue articular melhor as políticas públicas. Então, se eu fosse a presidente adotaria um mapeamento.

Brasilianas.org – Se você tivesse pouco tempo de vida e ainda tivesse de avaliar seu país, diria que tem orgulho das mudanças recentes? Não estou falando de governo, mas de sociedade civil.


Tânia Bacelar – Acho que o Brasil redemocratizado é melhor que o Brasil da ditadura. A grande mudança do Brasil foi à redemocratização, porque a gente aprendeu a fazer políticas sociais, dialogando, participando. E o que Lula fez foi encontrar um país já maduro para isso e botar o pé no acelerador. Ele teve essa astúcia de, exatamente, valorizar o que a gente tinha construído de bom.
Muitos programas de políticas públicas foram testados pelas ONGs, organizações civis. A visão que tenho é que a redemocratização está se consolidando e o contexto social é favorável ao Brasil.

Fonte: Brasilianas.org

Matéria publicada originalmente em Carta Capital


O preço de não escutar a natureza

Por Leonardo Boff *

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais. Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d'água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
 
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

* Teólogo, filósofo e escritor

Matéria publicada originalmente em Adital

Guido Mantega anuncia novo mínimo

Governo vai elevar salário mínimo de 2011 para R$ 545

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse há pouco que o governo vai alterar o valor do salário mínimo previsto para 2011, de R$ 540 para R$ 545. Segundo ele, o valor de R$ 540, anunciado no fim de 2010, foi fixado com base em uma estimativa de inflação para o mês de dezembro.

"Como o índice efetivo foi maior que o estimado, corrigimos o valor de R$ 540 para R$ 543. Mas, para evitar problemas de saque no caixa eletrônico, arredondamos para R$ 545", explicou Mantega em coletiva após a reunião ministerial.

O novo valor do mínimo entrará em vigor a partir de 1º de fevereiro. Não haverá reajuste retroativo a janeiro para evitar transtornos aos empregadores.

Mantega contou ainda que o governo baixará medida provisória para consolidar uma política de reajuste do salário mínimo, com base no critério atual, de inflação mais a variação do PIB do ano anterior. A nova política valerá para o período de 2011 a 2015.

"Com base nessa política, o trabalhador terá um aumento expressivo no ano que vem, de 13% a 14%, tendo como base o PIB de 7,5% de 2010 mais a inflação", frisou Mantega.

Matéria publicada originalmente em Economia Uol

Os sintomas de uma nova crise alimentar mundial

Os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008, alerta a FAO. No final de 2010, ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições de estudantes. Nos primeiros dias de 2011, já ocorreram protestos na Argélia e também na Tunísia, onde protestos de rua causaram a morte de pelo menos 20 pessoas. "Estamos entrando em um terreno perigoso", alerta economista da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.
 
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), com sede em Roma, alertou a semana passada que os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne seguiram altos ou registraram significativos aumentos em 2011, podendo replicar a crise de 2007-2008. Rob Vos, diretor de políticas de desenvolvimento e análise no Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU relata que o aumento dos preços já está afetando vários países em desenvolvimento. Ele indicou ainda que nações como Índia e outras do leste e do sudoeste da Ásia sofrem inflação de dois dígitos, impulsionada pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia. Na Bolívia, o governo se viu obrigado a reduzir os subsídios a alguns dos alimentos da cesta básica, já que estavam provocando uma disparada no déficit fiscal.

As implicações no curto prazo não são apenas que os pobres serão afetados e que mais gente poderá ser arrastada para a pobreza, mas sim que ficará mais difícil a recuperação dos países que enfrentam uma maior inflação e cairá o poder aquisitivo dos consumidores em geral. Alguns bancos centrais estão endurecendo suas políticas monetárias e governos estão se vendo obrigados a apertar o cinto, assinalou Vos, que é também chefe dos economistas da ONU.

Frederic Mousseau, diretor de políticas do Instituto Oakland, com sede em São Francisco, declarou que, em setembro passado, Moçambique já havia sofrido revoltas populares pelos altos preços do pão. Cerca de 13 pessoas morreram nestes protestos. “Ocorreram manifestações em uns 30 países em 2008 e isso pode se repetir agora uma vez que a situação não mudou nos últimos três anos”, sustentou Mousseau, autor do livro “O desafio dos altos preços dos alimentos: uma revisão das respostas para combater a fome”. Os países mais vulneráveis são os mais dependentes das importações e os menos capazes de enfrentar o aumento dos preços nos mercados com políticas públicas, sustentou. Isso concerne a muitas das nações mais pobres, com menos recursos, menos instituições e menos mecanismos públicos para apoiar a produção de alimentos”, explicou ainda Mousseau.

No final do ano passado ocorreram protestos na China pelos altos preços das refeições dos estudantes do ensino secundário, e na Argélia, pelo aumento do preço da farinha, do leite e do açúcar. Os argelinos voltaram a tomar as ruas na semana passada para protestar contra as duras condições econômicas. As manifestações terminaram com três mortos e centenas de feridos, enquanto que, na vizinha Tunísia, distúrbios similares causaram pelo menos 20 vítimas fatais.

Segundo o índice da FAO divulgado na semana passada, os preços dos cereais, dos grãos oleaginosos, lácteos, carnes e açúcar seguiram aumentando por seis meses consecutivos. “Estamos entrando em um terreno perigoso”, disse Abdolreza Abbassian, economista da FAO, para um jornal de Londres. Mousseau explicou que os preços começaram a aumentar em 2010 após as quebras de safras na Rússia e Europa Oriental, em parte causadas pelos incêndios de verão. Agora, as severas inundações que atingiram a Austrália, quarto maior exportador mundial de trigo, provavelmente afetarão a produção desse cultivo, elevando ainda os preços. “Qualquer outro acontecimento, como outro desastre climático em algum país exportador ou um novo aumento do preço do petróleo, sem dúvida alguma fará os preços dispararem, tornando a situação pior que a de 2008 e ameaçando o sustento de milhões de pessoas em todo o mundo”, acrescentou.

Por outro lado, Mousseau esclareceu que não se trata agora de um problema de escassez, como ocorreu em 2007-2008. “Não se pode usar a palavra escassez se consideramos que mais de um terço dos cereais produzidos no mundo são usados como alimento para animais, e que uma parte cada vez maior é utilizada para produzir agrocombustíveis”, observou. De fato, produziram-se 2,23 bilhões de toneladas de cereais no mundo em 2008, uma cifra sem precedentes. O nível de produção para o período 2010-2011 é levemente menor que o de 2008. A diferença é que, em 2008, foi o arroz que impulsionou a alta de preços, enquanto que, desta vez, é o trigo. Mas, em todo o caso, há uma combinação de fatores agindo: uma má colheita em uma parte do mundo provoca uma pressão sobre o mercado, que envia sinais negativos aos especuladores. Esses então começam a comprar e os preços disparam.

Tradução: Katarina Peixoto

Matéria publicada originalmente em: Carta Maior

Mais de 36 mil brasileiros foram resgatados da escravidão na década passada

Ministério do Trabalho realizou 934 operações; confira o ranking dos empregadores que mais tiveram trabalhadores libertados

Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que entre 2001 e 2010 foram feitas 934 operações de fiscalização para erradicação do trabalho escravo. Só no ano passado foram resgatados 2.327 trabalhadores em regime de escravidão. Em toda a década, o número de trabalhadores libertados da escravidão foi de 36.576.

Em dezembro do ano passado, 88 empregadores entraram na chamada ‘lista suja’ do trabalho escravo - a lista é atualizada semestralmente. Desse total, quatro estão no ranking dos 10 empregadores que mais tiveram trabalhadores resgatados do regime de escravidão nos últimos sete anos (ver tabela abaixo).


Segundo a lista, a líder em trabalhadores libertados é a Agrisul Agrícola Ltda, no Mato Grosso do Sul (MS), com 1011 escravos resgatados. A empresa foi cadastrada na lista suja em julho de 2009. Atualmente, a lista conta com 220 empregadores registrados entre novembro de 2003 e dezembro de 2010.

De acordo com os dados do MTE, o Pará foi estado que mais teve operações para erradicar a escravidão no ano passado -- 30, do total de 112 em todo o país -- e também liderou no número de trabalhadores resgatados -- 507, do total de 2.327. Entra as 10 empresas com mais trabalhadores libertados, o estado empata com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com dois empregadores entre os que mais usam mão-de-obra escrava em cada estado.

Matéria publicada originalmente em Exame.com





Os países mais otimistas com a economia em 2011

Pesquisa da consultoria Grant Thornton mostra que o Brasil é o quinto mais otimista entre 39 países

Uma pesquisa feita pela consultoria Grant Thornton mostra que os empresários brasileiros ainda estão no clima do vigoroso crescimento econômico do país nos últimos anos. O estudo mostra que 79% dos entrevistados no Brasil apostam no desempenho da economia e em seus efeitos no ambiente de negócios em 2011. Isto faz do país o quinto mais otimista dentre os 39 analisados.

De modo geral, empresários da indústria e do setor de serviços no Brasil acreditam que neste ano o cenário econômico permitirá mais investimentos em máquinas, novas fábricas e pesquisa e desenvolvimento de produtos e tecnologias. Além disso, sua percepção é a de que problemas como a inflação e a valorização excessiva do real, que poderia afetar as exportações, serão administrados com eficiência pela equipe econômica do governo.

Além de apontar o Brasil na quinta posição, o estudo confirma a inversão de papéis na economia mundial, um dos efeitos colaterais da crise de 2008. No topo do ranking do otimismo estão Chile, Índia e Filipinas, nesta ordem. Entre os cinco primeiros, apenas a Suíça representando países desenvolvidos.

Em países como Estados Unidos, Itália, França e Espanha, a dose de empolgação é bem menor. A percepção dos empresários diante de problemas como gastos públicos excessivos, índices de desemprego elevados e governos em descrédito, fez com que estes países ficassem entre os últimos colocados no ranking.
Matéria publicada originalmente em Exame.com

Serasa: varejo brasileiro cresce 10,3% em 2010

O varejo brasileiro cresceu 10,3% em 2010, em relação ao ano anterior, informou hoje a Serasa Experian, empresa especializada em análise de crédito. Em dezembro, segundo o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, o crescimento foi de 2,9% na comparação com novembro, já descontadas as influências sazonais.

O setor de material de construção teve a maior expansão no ano passado, de 17% em relação a 2009. Em seguida aparece o ramo de móveis, eletroeletrônicos e informática, com expansão de 14,9% no mesmo período. O segmento de veículos, motos e peças apresentou alta de 10,9%. Entre os segmentos avaliados, houve retração de 0,4% em combustíveis e lubrificantes.

Na avaliação dos economistas da Serasa Experian, os principais motivos para o crescimento do varejo em 2010 foram a oferta de crédito em condições favoráveis, o elevado grau de confiança dos consumidores e o bom momento vivido pelo mercado de trabalho. Para 2011, os economistas da instituição esperam um crescimento positivo da atividade do comércio, mas em taxas mais moderadas.

Segundo a Serasa Experian, as medidas de aperto no crédito baixadas pelo Banco Central (BC) no início de dezembro, os prognósticos de aumentos nas taxas de juros e as promessas do novo governo de uma política fiscal mais austera em 2011 levarão a um avanço menos acelerado do consumo.

O Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio leva em conta as consultas mensais realizadas pelos estabelecimentos comerciais à base de dados da Serasa Experian. A amostra é composta por cerca de 6 mil empresas comerciais de todo o País.

Matéria publicada originalmente no Jornal a Tarde

Brasil registra aumento de transgênicos e agrotóxicos nas lavouras

Pesquisa mostra que em 67% das áreas onde o uso é permitido, sementes geneticamente modificadas são utilizadas.
 
De acordo com levantamento da consultoria Céleres, três variedades de sementes geneticamente modificadas – conhecidas como transgênicas – ocuparam mais de 25 milhões de hectares na safra brasileira 2010 /2011. Este número representa 67% da área plantada com soja, milho e algodão – únicas commodities do Brasil em que a modificação pode ser utilizada. No total, foram plantados mais de 37 milhões de hectares das três variedades.

A soja conta com a maior área plantada. Dos quase 24 milhões de hectares, 75% são transgênicos. O milho fica em segundo lugar. Dos 5,30 milhões de hectares, pouco mais de 4 milhões são de produção transgênica. Já o algodão ocupou 25,7% da área destinada a cultura.

O aumento das áreas cultivadas explica o crescimento no uso de agrotóxicos. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no primeiro semestre deste ano foram vendidas 8,6 milhões toneladas de fertilizantes. Um aumento de 5% se comparado ao mesmo período do último ano. De acordo com a integrante da organização Terra de Direitos, Larissa Packer, o uso de fertilizantes aumentou significativamente depois que os transgênicos entraram nas lavouras brasileiras.

“Os campos cultivados de soja e de milho, por exemplo, têm uma determinada semente que é viciada em determinado agrotóxico. Os agricultores não encontram outras sementes e agrotóxicos disponíveis e, com essa compra do pacote tecnológico, é a população quem sofre pela redução de seu padrão alimentar.”

De acordo com a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), 15% dos alimentos consumidos pelos brasileiros apresentam taxa de resíduos de veneno em um nível prejudicial à saúde. Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil é o principal destino de agrotóxicos proibidos no exterior. Dez variedades vendidas livremente aos agricultores não circulam na União Europeia e Estados Unidos.

Matéria publicada orginalmente em: Carta Capital

Em meio à crise da dívida, Estônia entra para a zona do euro

A Estônia se transformou no 17º país a entrar na zona do euro e a primeira ex-república soviética a adotar a moeda única do bloco europeu. A decisão ocorre em meio à crise da dívida que abala o continente e, conforme admitiu o presidente francês Nicolas Sarkozy, pode inviabilizar o euro.

A mudança das antigas coroas estonianas para o euro começou à meia-noite do dia 31 de dezembro e o primeiro-ministro Andrus Ansip marcou o evento fazendo um saque de euros de um caixa eletrônico.

“É um pequeno passo para a zona do euro e um grande passo para a Estônia”, disse Ansip, mostrando as notas de euro.

Apesar da pressão dos mercados internacionais na zona do euro e da crise na Grécia e na Irlanda em 2010, pesquisas de opinião sugerem que a maioria dos estonianos queria a adoção do euro.

A Estônia se juntou à União Europeia em 2004 e foi um dos ex-países do bloco soviético a se juntar aos europeus, junto com países vizinhos como a Letônia e a Lituânia. Outros dois países do leste europeu, a Eslovênia e a Eslováquia, já fazem parte da zona do euro.

Crise
O governo da Estônia afirma que o euro vai atrair mais investidores estrangeiros. No entanto, os estonianos mais pobres temem que os preços subam, e que a alimentação fique ainda mais cara no país.

E a perspectiva de ter que contribuir para programas de ajuda de países mais ricos da zona do euro é algo que deixa ainda mais estonianos insatisfeitos. No ano de 2010 a crise na Europa atingiu duramente o país. Os grandes cortes nos gastos públicos, que foram necessários para que a Estônia entrasse na zona do euro, fizeram com que o índice de desemprego no país subisse para 16%.

As coroas estonianas ainda serão usadas junto com o euro durante a primeira metade de janeiro. Os bancos vão trocar a moeda antiga pela nova até o final de 2011 e o Banco Central da Estônia vai continuar fazendo esta operação por tempo indefinido.

*Matéria Publicada originalmente em Vermelho

Brasil e América Latina: Emprego em expansão

Por Paulo Daniel*

Na América Latina e Caribe ocorreu uma rápida recuperação do emprego em 2010, entretanto, é necessário enfrentar o desafio de melhorar as condições de trabalho de milhões de trabalhadores
 
Um dos termômetros de quão bem ou mal vai uma determinada economia é o nível de emprego e desemprego. Na América Latina e Caribe ocorreu uma rápida recuperação do emprego em 2010 até alcançar o patamar anterior à crise, entretanto, é necessário enfrentar o desafio de melhorar as condições de trabalho de milhões de trabalhadores.

A diminuição do desemprego é uma excelente notícia e demonstra a capacidade que os países tiveram em lidar com a crise e com rápida recuperação de suas economias.
 
Estimativas da OIT com base nos dados mais recentes compilados na região, indicam que a taxa de desemprego urbano na América Latina e no Caribe chegará a 7,4% no final de 2010, em comparação a 8,1% em 2009, que foi o ano de maior impacto da crise, é praticamente no mesmo nível que os 7,3% em 2008.
 
Por que essa reação tão rápida? Por uma razão muito simples; as políticas anticrise adotadas pelos países contribuiram para que o impacto no mercado de trabalho fosse moderado na região, ou seja, aumento do gasto público, principalmente no que diz respeito ao investimento e aumento do volume de crédito.

Ainda avaliando dados da OIT, observa-se que redução do desemprego urbano favoreceu por igual a homens e mulheres, estas últimas ainda enfrentam uma lacuna na questão de gênero que se reflete numa taxa de desemprego 40% mais alta.

Também se destacou que a taxa de desemprego juvenil urbano diminuiu de 17,4% a 16,3% em um grupo de sete países para os quais há dados disponíveis. Esse percentual é ainda mais que o dobro da taxa de desemprego total e cerca de três vezes a dos adultos.

Além disso, os dados disponíveis em cinco países para o segundo semestre de 2010 mostram um aumento do emprego no setor formal de 4,6%. No entanto, a ocupação no setor formal das empresas aumentou a um ritmo de 7,2%.
 
E no Brasil como estamos? Evidentemente ocorreu aumento significativo do emprego em todas as regiões do país, mas ainda não estamos em “pleno emprego” e muito menos próximos a “taxa natural” de desemprego.

Conceitualmente, em termos mais globais, pleno emprego significa o grau máximo de utilização dos recursos produtivos (materiais e humanos) de uma economia.
 
Numa economia dinâmica é muito difícil que ocorra a eliminação total do desemprego, pois: 1) há atividades — como a agricultura — que não ocupam continuamente a mesma força de trabalho (desemprego sazonal); 2) é necessário certo tempo para que as pessoas troquem de emprego (é o chamado desemprego friccional); 3) além disso, certas pessoas podem optar por viver desempregadas.
 
Por essa razão, considera-se haver uma situação de pleno emprego quando não mais que 3% a 4% da força de trabalho está desempregada.
 
No que diz respeito aos salários, tivemos um bom desempenho com aumentos salariais reais de 3,4% em 2008 e 3,3% em 2009. Os bons resultados estão relacionados ao fato de que os efeitos da crise econômica internacional foram muito breves e também ao aumento significativo do salário mínimo no país durante o período 2008-2009, cujo patamar incide diretamente em um de cada seis trabalhadores assalariados.

Por fim, é importante destacar, enquanto que em países altamente industrializados há uma redução do nível de salário real e, por sua vez, estabilidade ou crescimento da taxa de desemprego; no Brasil e na América Latina há aumento da renda e do emprego, aí está uma das justificativas do crescimento econômico da região, neste sentido, não será nenhuma novidade se tivermos o melhor natal da década.

* Matéria publicada originalmente em Além de economia