Carta da Cáritas Brasileira Interregional Nordeste – Por outro modelo de desenvolvimento

Nós, representantes da Cáritas Brasileira de oito estados do Nordeste Brasileiro (Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), reunidos nos dias 19, 20 e 21 de Agosto de 2010, na Prainha do Canto Verde, Beberibe-Ceará, para realizar o monitoramento do seu planejamento e fazer uma reflexão crítica sobre os impactos de Grandes Projetos que estão sendo implantados nesses estados, queremos tornar público o resultado dessas reflexões.

Foi apresentada toda a problemática gerada pelas implementações de um conjunto de projetos do grande capital, no campo do agro e hidronegócio, da mineração e do turismo predatório, todos trazendo sérios e diversos impactos para as populações atingidas e para o meio ambiente.

IMPACTOS AMBIENTAIS – A Contaminação do solo e das águas pelo uso de venenos agrícolas, o desmatamento, as queimadas, e a degradação do solo, provocando riscos de desertificação, extermínio de espécies animais e vegetais;

IMPACTOS SOCIAIS – A Desorganização das comunidades e municípios, o aumento do êxodo rural e a superpopulação urbana, o aumento da violência no campo e na cidade, a (des) territorialização das comunidades tradicionais, a falta de segurança alimentar e hídrica, a vulnerabilidade de crianças, adolescentes e da juventude, entre outros.

IMPACTOS ECONÔMICOS – Empobrecimento das populações, em especial de agricultores e agricultoras familiares, devido a desarticulação das economias locais; a desapropriação das terras de pequenos(as) produtores(as); sonegação de imposto por parte das empresas e isenções concedidas pelos governos;

IMPACTOS CULTURAIS – Desarmonia nas comunidades e famílias, perda das identidades culturais dessas famílias, destruição da cultura local e da religiosidade popular;

IMPACTOS POLITICOS – Aumento da incidência da corrupção por parte do poder público, destituição da organização e participação política da comunidade, dispersão ou destruição da organização comunitária.

IMPACTOS POLÍTICOS: Aumento da corrupção na administração pública, destruição da organização comunitária, tendo como conseqüência a desmobilização para a participação política da comunidade.

A Cáritas Brasileira, em cumprimento da sua missão de “defender a vida e participar da construção solidária de um projeto de desenvolvimento solidário e sustentável, junto com as pessoas em exclusão”, vem a público DENUNCIAR e REPUDIAR esse modelo de desenvolvimento que retira do povo a oportunidade de construir, a partir de sua cultura, do seu credo, uma vida digna e cidadã.

DENUNCIAMOS e REPUDIAMOS o uso indiscriminado de agrotóxicos, que vem gerando doenças crônicas e morte, especialmente para os agricultores/as familiares. REPUDIAMOS a ausência de uma Reforma Agrária justa, a impunidade nos casos de assassinato das lideranças populares, a precariedade no atendimento a saúde dessas populações, a má qualidade da educação, a violência contra a mulher, pois são partes integrantes de um modelo de desenvolvimento equivocado que ao mesmo tempo em que possibilita grandes ganhos econômicos de forma concentrada nas mãos de uma minoria, gera má qualidade de vida para uma grande maioria.

Queremos também ANUNCIAR a resistência, a organização e a luta das comunidades, povos, trabalhadores e trabalhadoras destes estados Nordestinos, que estão construindo alternativas sustentáveis e verdadeiramente inclusivas. São inúmeras experiências no campo da agricultura familiar e economia popular solidária, que produzem e colocam alimentos na mesa da maioria dos brasileiros/as. São milhares de agricultores/as familiares, comunidades de pescadores, ribeirinhos, indígenas que abastecem mercados locais e alimentam seus filhos/as com qualidade, preservam culturas e o meio ambiente e, desta forma, apontam caminhos para a construção do futuro.

CONCLAMAMOS a todas as pessoas para que levantemos a bandeira de luta por uma Reforma Agrária justa, que gere paz e cidadania, POR UM DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO E SUSTENTÁVEL, a fim de que tenhamos um Nordeste livre do Agronegócio e um Brasil Novo, onde todas as pessoas possam ser felizes e viver com dignidade, colhendo os frutos da Paz e da Justiça.

Cáritas Brasileira – Interregional Nordeste

Prainha do Canto Verde, Beberibe-Ceará, Agosto de 2010

Fonte: Blog da União de Empreendedores da Economia Solidária

Um comentário:

  1. Leandra, essa carta da Cáritas vem em bom momento. Precisamos nos posicionar seriamente sobre esses grandes projetos. Lembrar que em nossa região tem o problema da monocultura do eucalipto, a mineração, dentre outras. Precisamos nos posicionar para o enfrentamento.

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