Discurso de posse da nova presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA


Excelentíssima Senhora Presidenta da República - Dilma Rousseff.
Excelentíssima Senhora Ministra de Estado – Tereza Campello.

Meus cumprimentos ao Professor Renato Maluf a quem tenho a honra de suceder nesta desafiadora e dignificante missão que é presidir o Consea. 

Meus cumprimentos aos representantes dos vários ministérios que compõem o Consea.

Meus cumprimentos especiais às colegas Conselheiras e aos colegas Conselheiros da sociedade civil aos quais peço que, neste momento se levantem e recebam uma calorosa salva de palmas.

Senhoras, senhores, 

O Consea é resultado de uma manifesta vontade política por ouvir as demandas da sociedade. É fruto das reflexões pioneiras sobre a fome, feitas por Josué de Castro - que é seu patrono; do ex-presidente Lula, que o recriou, e foi recentemente indicado pelos conselheiros seu Presidente de Honra; de Betinho, da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e pela Vida.

É a expressão dos ecos da cidadania, das vozes do campo, da floresta e da cidade.

Em sua composição está a fala dos sujeitos de direitos, aqui representados pelas organizações dos povos indígenas, população negra, quilombolas, pescadores, comunidades de terreiro, extrativistas como as quebradeiras de coco, organizações da agricultura familiar e camponesa.

É a expressão de nossa sociobiodiversidade, com suas formas de vida e manejo dos bens da natureza nos vários biomas, e de uma sociedade pluriétnica.

Mas também estão entidades do direito humano à alimentação; centrais sindicais; redes, fóruns e articulações da soberania e segurança alimentar e nutricional, da agroecologia, da economia solidária, da educação cidadã; representações de organizações de matriz religiosa; das organizações que reúnem pessoas com necessidades especiais, consumidores e profissionais do campo da saúde e nutrição; organizações ligadas à agricultura patronal e indústria de alimentos.

É a expressão das várias dimensões da política de segurança alimentar e nutricional, sintetizadas no princípio da intersetorialidade, que nos é muito caro.

Reafirmamos que essa política, baseada no direito humano à alimentação adequada, deve se concretizar através das diretrizes contidas no Plano Nacional de Segurança de Alimentar e Nutricional:
  • do acesso universal à alimentação adequada e saudável;
  • da promoção do abastecimento e estruturação de sistemas sustentáveis e descentralizados de base agroecológica de produção, extração e processamento;
  • da instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional;
  •  do fortalecimento das ações de alimentação e nutrição em todos os níveis da atenção à saúde;
  •  de promoção do acesso universal à água de qualidade e em quantidade suficiente;
  • do apoio às iniciativas de promoção da soberania alimentar, segurança alimentar e nutricional no âmbito internacional e nas negociações internacionais.
Por isso reconhecemos a importância da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) e procuraremos caminhar no sentido do aprimoramento de sua interlocução com o Consea.
Temos, hoje, uma representação de cerca de 51% de mulheres. A expressão de seu papel na luta pela garantia da segurança alimentar e nutricional começa a refletir-se na consciência da sociedade de que são portadoras de direitos, embora haja muito a avançar no plano das políticas e seus instrumentos de operacionalização que ainda discriminam as mulheres.
Presidenta Dilma, a 4ª Conferência Nacional que realizamos no final do ano passado em Salvador, na Bahia, foi o coroar de um movimento que envolveu mais de 75 mil pessoas, com a participação de 3.000 municípios, todas as regiões, todos os estados.
Representou uma inequívoca mostra da força e do alcance de nossa articulação e mobilização social. 
Reuniu 2.000 participantes, entre eles ministros de Estado, governadores, deputados, senadores, prefeitos e delegações das 27 unidades da Federação. Entre os convidados e observadores, lá estiveram 200 estrangeiros, que ali representavam 51 países e 5 continentes.
Um relato dessa história encontra-se no documento que Vossa Excelência acaba de receber.
Vivemos tempos de celebração de conquistas como já assinalou o professor Renato Maluf. Reconhecemos e valorizamos os significativos avanços conseguidos no Brasil na mobilização social pela soberania e segurança alimentar e nutricional, para os quais contamos várias vezes com a atuante Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional.
Houve nos últimos anos uma sensível melhora dos índices de insegurança alimentar de vários segmentos sociais.
Temos programas estruturantes que têm sido inspiradores para iniciativas análogas em outros países, como é o exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa um Milhão de Cisternas ( P1MC) e mais recentemente a inovadora proposta do P1 +2 – uma terra e duas águas no semiárido.

O Consea defende a ampliação do programa de cisternas de placas, nos moldes em que é executado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), como uma das alternativas de convivência com o semiárido.

Esses são programas que articulam vários sentidos, e cada um com as suas especificidades contribui para revigorar as economias locais, estimular a diversificação da produção, valorizar as culturas alimentares e impulsionar a participação social, a organização popular, revitalizando o tecido associativo.  Este é um aspecto fundamental da construção cidadã, da relação entre Estado e sociedade, em relação ao qual estaremos atentos para que não haja retrocessos.

Mas vivemos tempos também de grandes desafios, contradições e riscos de desconstrução de conquistas, a exemplo dos significativos fatos que marcam o contexto em que inauguramos uma nova gestão do Consea.
Eles requerem a nossa atenção e reflexão.
Quero prestar minha homenagem aos 220 povos indígenas, falantes de 180 línguas, povos originários, e que são representados no Consea por quatro etnias de diferentes biomas: Tapeba, Kaiowá, Yawanauwá e Guarani. Nesta semana temos o seu dia, mas não há muito a celebrar.

Vare’á estão gritando os Kaiowá no bioma cerrado, no Mato Grosso do Sul, para falar da ausência do broto da semente semeada; para falar da fome. Os índices de desnutrição entre os povos indígenas continuam altos e mais recentemente vêm sendo diagnosticados casos da doença beribéri entre várias etnias em Roraima.

A situação das comunidades quilombolas também nos preocupa. Os conflitos territoriais e as dificuldades de acesso às políticas incidem em sua insegurança alimentar. A Chamada Nutricional Quilombola mostra-nos o impacto da desnutrição das crianças, cerca de 76% maior do que para o conjunto da população.

Os riscos de agravamento desse quadro nos chegam de duas medidas propostas em debate nesse momento.
Há poucos dias, a Comissão de Constituição Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere para o Congresso Nacional a competência para demarcar e homologar terras indígenas e quilombolas, retirando a competência do Executivo.
Indígenas e quilombolas temem que a aprovação definitiva da PEC 215 prejudique ainda mais a demarcação de territórios tradicionais. Instaura-se o risco de inviabilizar qualquer reconhecimento de novas áreas. E são inúmeros os projetos de lei que buscam restringir os parcos direitos territoriais dos povos indígenas e das comunidades quilombolas.
Há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3.239, que será julgada amanhã no Supremo Tribunal Federal, sobre Terras Quilombolas.
O Decreto Federal 4887/2003, assinado pelo ex-presidente Lula, que regulamentou o processo de titulação das terras dos remanescentes das comunidades de quilombos, criando mecanismos que facilitam o processo de identificação e posterior titulação de comunidades, encontrou ferrenha oposição.
Precisamos compreender que para os territórios étnicos-raciais a terra não é apenas um meio de produção da sua subsistência e reprodução física, mas, também  um patrimônio sócio-cultural. A terra é a sua casa, o lugar onde nascem, crescem e desenvolvem suas diferentes formas de vida.

É o lugar onde enterram seus mortos e celebram a vida. É o lugar onde produzem e reproduzem sua cultura, onde historicamente domesticam plantas e animais e nos deixam um enorme legado de espécies e variedades que enriquecem a nossa biodiversidade. A terra não é mercadoria, nem propriedade privada de pessoa física ou jurídica. É patrimônio coletivo, de todo um povo, de seus usos e costumes, e assim a apropriação dos seus frutos se dá, igualmente, de forma coletiva, de forma sustentável.

Se aprovadas essas medidas, elas representarão um retrocesso nas conquistas e o crescimento dos riscos de insegurança alimentar e nutricional.
O julgamento da ADI  contra os direitos quilombolas coloca ao STF a responsabilidade de consolidar um entendimento Constitucional que possibilite o avanço da política pública de titulação. O reconhecimento e a efetivação do direito ao território para as comunidades quilombolas representa muito mais do que a necessária reparação do erro histórico da escravidão: é a garantia que a sociedade brasileira precisa contar com a existência dos quilombos na contínua construção econômica, social e cultural da sociedade.
Nosso apelo, Sra. Presidenta, fazendo coro às vozes dessas populações, é zelar pelo cumprimento da Constituição Federal e de outros instrumentos internacionais, como a Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário, de proteção aos direitos indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais.

Para reverter o quadro de riscos para essas populações, o Consea defende o etnodesenvolvimento como uma diretriz a ser plenamente incorporada no conjunto das políticas públicas do Estado brasileiro, e em especial nas políticas de Segurança Alimentar e Nutricional.

Para um Brasil sem Miséria é necessário recusar essas medidas, e enfatizar a deliberação da 4ª Conferencia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que nos diz:

“Garantir e efetivar os direitos territoriais e patrimoniais, materiais e imateriais, e acelerar os processos de ampliação do acesso à terra, bem como garantir acesso aos recursos naturais para os povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais como condição primordial para a garantia da soberania alimentar e realização  do direito humano à alimentação adequada e saudável”.

O aprofundamento da democracia participativa e redistributiva para assegurar o direito humano à alimentação adequada requer a concretização do direito à terra, reconhecendo sua função social nas dimensões socioambiental, econômica e trabalhista, conforme a Constituição Federal, através de amplo programa de reforma agrária .

Trago também, Presidenta Dilma, em rápidas palavras, algumas outras propostas da 4ª Conferência, que nos parecem prioritárias para a gestão que ora se inicia.
Consideramos fundamental adotar o objetivo estratégico da soberania e segurança alimentar e nutricional como um dos eixos ordenadores da estratégia de desenvolvimento do país para superar as desigualdades socioeconômicas, regionais, étnico-raciais, de gênero e geração e erradicar a pobreza extrema e a insegurança alimentar e nutricional. Esta perspectiva ainda não está incorporada no atual Plano Plurianual.

O caminho percorrido historicamente pelo Brasil com seu atual modelo de produção nos levou ao lugar do qual não nos orgulhamos de maior consumidor de agrotóxicos no mundo e uma das maiores áreas de plantação de transgênicos.

A livre atuação das grandes corporações, apoiada na irrestrita publicidade de alimentos - que tem como um dos alvos principais as crianças – também tem gerado efeitos nocivos para a segurança alimentar e nutricional e em fenômenos como o preocupante avanço do sobrepeso, da obesidade e de doenças crônicas não-transmissíveis.

O Ministério da Saúde divulgou recentemente resultados de uma pesquisa que revela dados alarmantes relacionados ao sobrepeso e à obesidade em nosso país: 49% dos brasileiros estão acima do peso e, nesse percentual, 16% são obesos. Por isso defendemos a imediata implementação do Plano Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade e da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), com a garantia de financiamento para, dentre outras ações, assegurar a universalização das ações de alimentação e nutrição na Atenção Básica à Saúde.

O fortalecimento da capacidade reguladora do Estado se faz necessário, tanto na efetiva regulação da expansão das monoculturas, como na adoção de medidas como o banimento imediato dos agrotóxicos que já foram proibidos em outros países, incluindo os que foram utilizados em guerras, como o glifosato; o fim de subsídios fiscais, acompanhado da implementação de mecanismos de regulação da comunicação mercadológica de alimentos.

A restauração do princípio da precaução em relação aos produtos transgênicos é imperiosa necessidade para proteger a saúde humana e o meio ambiente. É socialmente inaceitável que o mercado seja o único regulador das decisões tecnológicas. A consciência dos consumidores e a manifestação de suas incertezas dever ser considerada. Defendemos a rotulagem obrigatória de todos os alimentos transgênicos, assegurando ao consumidor o direito à informação, assim como defendemos que o governo mantenha o veto à utilização da tecnologia genética de restrição de uso (Gurt), conhecida como “terminator”, conforme a manifestação contida na Declaração Política da 4ª Conferência.

É indispensável revisar a lei de biossegurança e modificar a composição e funcionamento da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), para expressar as diferentes visões existentes na sociedade e na comunidade acadêmica e ampliar a participação e o controle social.

O Consea defende, apoia e valoriza a agricultura familiar e camponesa responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e das brasileiras.

Investir na agricultura familiar e camponesa é gerar emprego e renda para milhões de pessoas, é estimular a produção de alimentos e a diversidade de culturas, é respeitar tradições alimentares e preservar a natureza, é fixar o homem no campo, é fortalecer as economias locais e regionais.

Defendemos a proposta da Política Nacional de Agroecologia e Sistemas Orgânicos de Produção, em processo de elaboração por um grupo interministerial em diálogo com organizações da Articulação Nacional de Agroecologia, garantindo a proteção da agrobiodiversidade e iniciativas como a conservação de sementes crioulas, os sistemas locais públicos de abastecimento, circuitos curtos de mercado e mercado institucional.

Reivindicamos a instituição de uma Política Nacional de Abastecimento Alimentar, com base na proposta construída na Caisan, em diálogo com o Consea com o estímulo à política de estoques públicos de alimentos (ampliando a aquisição da produção da agricultura familiar); a descentralização do abastecimento público, distribuição de alimentos no varejo e atacado; revitalização das Ceasas e dos equipamentos públicos de alimentação e nutrição, incluindo o apoio às feiras agroecológicas.

Celebramos os passos dados até agora na construção do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) como estrutura responsável pela formulação, implementação e gestão participativa da política de Segurança Alimentar e Nutricional em todos os níveis. Esta consolidação é resultado, em âmbito nacional, de inúmeros esforços, em especial do Consea e da Caisan. Em âmbito distrital e estadual, caminharemos apoiando a necessidade de implantar as instâncias intersetoriais de segurança alimentar e nutricional e apoiar o efetivo funcionamento dos Conseas estaduais.

Senhora Presidenta.

A indicação do meu nome para a presidência do Consea, feita pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil, evidencia princípios e valores que nos são muito caros: soberania alimentar, sustentabilidade socioambiental, justiça social e climática, participação, controle social, intersetorialidade, igualdade nas relações de gênero, entre outros. Buscarei exercitá-los na gestão coletiva.

Agradeço aos conselheiros e às conselheiras, aos movimentos sociais, às entidades da sociedade civil, às organizações não governamentais, em especial à FASE- Solidariedade e Educação, ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e à Articulação Nacional de Agroecologia.

Um agradecimento especial a Vossa Excelência, Presidenta Dilma, pela honra com que acolhe e ratifica o meu nome, para esta relevante e nobre missão.

Muito obrigada.

Brasília, 17 de abril de 2012.

Você comeu feijão hoje?


Fonte: Ministério da Agricultura
Por Leandra Silva* e Ana Antunes**

Originário da América do Sul, o feijão é um alimento do grupo das leguminosas e constitui importante fonte de propriedades nutricionais significativas e necessárias para o bom funcionamento do nosso organismo.  Suas propriedades nutritivas incluem a presença de carboidrato, proteína, fibras, ferro e fonte de vitaminas do complexo B. Além disso, ao associado ao arroz oferece boa parte dos aminoácidos essenciais ao organismo.

O percentual de brasileiros que consomem o feijão é de, aproximadamente, 70% de toda a população do país, especialmente a de baixa renda, sendo um dos alimentos mais consumidos no Brasil.

Você comeu feijão hoje? Caso sua resposta seja positiva, então você é um dos sete em cada dez brasileiros que utilizam o feijão diariamente em sua dieta, deve ter notado um fenômeno nos últimos dias: um aumento significativo do preço deste importante item da cesta básica.

O aumento dos preços do feijão no acumulado dos últimos doze meses em alguns estados como o Paraná chega a 93%, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) do Paraná. No estado de Minas Gerais, o feijão chegou a sofrer uma alta de 74,92% nos preços.

Embora o Estado da Bahia responda por parcela significativa da produção nacional de feijão, sendo um dos principais responsáveis pelo abastecimento do Nordeste, o Estado também vem sofrendo alta nos preços chegando a atingir R$ 8,00 (oito reais) o quilo do alimento.

O aumento nos preços atinge todas as variedades de feijão e tem um único fator: a redução da oferta do produto. Tal redução se justifica pela queda significativa da safra do grão, causada pela redução da área plantada. Segundo dados da CONAB a safra 2011/2012 deverá ficar em 1,250 milhão de hectares, 11,9% menor que a safra passada. Na Bahia a redução foi de 10,7%. Um dos fatores ocasionados em decorrência da redução da área plantada, é que muitos produtores de feijão estão migrando para o plantio do milho.

Além disso, o longo período de estiagem vem causando prejuízos às lavouras, diminuindo sua produtividade e, consequentemente, provocando uma diminuição da oferta.

Neste contexto o cenário que está posto é de que os preços continuem em alta durante o mês de abril, porém, poderão sofrer uma estabilização em decorrência da próxima safra que inicia ainda esse mês e vai até o mês de julho e com a chegada das chuvas. É o que esperamos.

* Estudante de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
** Estudante de Nutrição pela Faculdade de Tecnologia e Ciência - FTC 

A seca na Bahia e o retorno das políticas assistencialistas


Foto: Arquivo do CEDASB
Por Leandra Silva*

A seca que atinge aproximadamente 200 municípios baianos é um fenômeno que vem despertando das autoridades do Estado a necessidade de desenvolver ações emergenciais com vistas a superar os impactos e levar água para as famílias atingidas.
Em termos de recursos públicos investidos, o Ministério do Desenvolvimento Agrário anunciou no último dia 10, investimentos na ordem dos R$ 31 milhões para financiar uma série de medidas no Estado. Entre as medidas anunciadas pelo Governo estão retroescavadeiras, motoniveladoras, bombas, cata-ventos para retirada de água de poços. As ações pretendem beneficiar 71 mil agricultores.
As ações do Estado se mostram necessárias dada a condição de emergência que o Estado enfrenta. No entanto, o que estamos assistindo na execução das ações é, nada mais, nada menos, que o uso de recursos públicos financiando campanhas eleitorais futuras. A seca se mostra como um instrumento apropriado pelos políticos para exercer a velha política do “toma lá, dá cá”, bastante apropriada ao enriquecimento e ao fortalecimento do poder político das oligarquias rurais e também urbanas.
Historicamente, a seca pode ser compreendida como um fenômeno recorrente e previsível no Estado e em toda região semiárido do Brasil. Entretanto, as políticas públicas destinadas à melhoria das estruturas hídricas com vistas a mitigar os impactos causados pelos períodos de estiagem são mínimas ou quase nulas. A trajetória de tais ações sempre optou por processos incompatíveis com a superação dos problemas estruturais, se sustentando em um universo de medidas emergenciais assistencialistas que geram a dependência de povos e comunidades.
Nestes termos, a seca enfrentada no estado da Bahia pode ser compreendida como uma grande “cortina de fumaça” que encobre os verdadeiros problemas estruturais do Estado e reforça as relações de domínio e exploração.
Não se trata apenas de financiar ações emergenciais, trata-se da necessidade de adoção de uma política pública de Estado com vistas a fomentar processos democráticos em sintonia com as necessidades e as dificuldades do povo do semiárido. É preciso romper com o falso paradigma do “combate a seca” e assumir a dimensão da convivência com os períodos de estiagem, por meio de ações duradouras que reforcem o protagonismo de comunidades e povos.

* Estudante de Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Carta dos Estudantes do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Carta dos Estudantes do Curso de Ciências Econômicas
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB
Delegação do CA Celso Furtado


A delegação saúda a todas e todos participantes do Encontro Regional dos Estudantes de Economia, da Região Nordeste, na pessoa do representante do CAECO, [Chapa Fortalece Aí]. Ao fazê-lo, estendemos ao corpo Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas [UFAL], de maneira especial ao corpo discente/docente. Oportunamente, saudamos também o Departamento de Ciências Sociais Aplicadas, Colegiado de Economia e a Reitoria pela disposição em colaborar com este singular encontro. Aos nossos anfitriões [sede] nossos sinceros agradecimentos pela hospitalidade e carinho.
Esta delegação [Estudantes do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB], devidamente credenciada e com participação ativa no ERECO (2012), sentimos a necessidade de avaliar coletivamente o encontro e, a partir de exposições individuais de cada membro da delegação, manifestar nossa opinião. Portanto, sentimo-nos bastante a vontade para analisar o encontro e, deste modo, tecer considerações acerca da organização, funcionamento e conteúdo das atividades do Encontro Regional dos Estudantes de Economia:
  1. Consideramos que a prossecução das atividades desenvolvidas neste encontro atendeu satisfatoriamente todas as necessidades demandadas pelos estudantes que compõem a delegação da UESB [Ciências Econômicas], conforme dispõe o propósito constitutivo do escopo do projeto;
  2. Entendemos que as ações programáticas do ERECO foram desenvolvidas de forma organizada, responsável e eficiente, atendendo as expectativas objetivas e subjetivas de nossa delegação. Aliás, o que é raro pelo próprio caráter subjetivo da satisfação;
  3. Avaliamos que o ERECO-Maceió apresentou uma relação de especialistas, com estudos acerca dos temas propostos, de varias matizes teóricas para tratar de fenômenos adstritos ao campo das Ciências Econômicas visando elucidar os mecanismos constitutivos da crise europeia e EUA e seus impactos, em maior ou menor escala, na economia brasileira e seu rebatimento [a curto e médio prazo] na economia nordestina;
  4. Ponderamos que todos os palestrantes que apresentaram seus trabalhos-estudos [mesas, minicursos, GD’s e GT’s] o fizeram de forma acessível a partir do dialogo-interação com a realidade educacional dos estudantes, optando sempre por uma metodologia pedagógica que visava consubstanciar o ensino-aprendizado desenvolvido em todos os lócus [Faculdade] sem desprezar a importância dos respectivos fundamentos teóricos. Ao contrário, notamos que houve, na maioria das falas dos palestrantes, o cuidado para a não utilização da cultura do economicismo [conteúdista e pragmático] em decorrência do curso ser bacharelado;
  5. Entendemos que o espaço destinado às apresentações de trabalhos científicos representa uma oportunidade importante para graduandos e graduados apresentarem publicamente o resultado parcial ou conclusivo de suas pesquisas e, assim, fomentar debates, incentivar atividades de pesquisa e contribuir com o desenvolvimento das Ciências Econômicas;
  6. Consideramos que as Ciências Econômicas não devem se limitar ao conceito modal de alocação racional dos recursos escassos, visando exclusivamente o crescimento/desenvolvimento da riqueza da nação [privada], em detrimento da pauperização do tecido social com a precarização resultante do assalariamento das trabalhadoras e trabalhadores;
  7. Consideramos que o ERECO contribuiu para o aprendizado mais eficiente, pois, no que pese saber que o curso de Ciências Econômicas não possui um aporte teórico pedagógico por não ser licenciatura, portanto, voltado para o magistério, precisamos internalizar um novo um ambiente factível aos estudantes, que seja capaz de realizar a contracultura ao academicismo deslocado da realidade [lócus da práxis] da maioria absoluta dos estudantes em função do seu caráter contraproducente que, infelizmente, ainda permeia nossas instituições de ensino superior;
  8. Avaliamos que todos os espaços utilizados pelo ERECO estão em conformidade com o projeto pensado e organizado pelo CA de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas [UFAL], sem nenhum prejuízo ou comprometimento de parte ou integral de suas estruturas;
  9. Refletimos que todas as atividades culturais desenvolvidas no âmbito da programação cultural do ERECO-Maceió (2012) estão em intensa relação com o ambiente cultural nordestino da juventude, na perspectiva de resignificar conceitos subsumidos pelas ações mercantis da indústria da música que vem adulterando o teor semântico da musica nordestina, pois, visa plasmar um tipo de “música” descartável apta para a cultura de massificação, de outra maneira, subvertendo seu conteúdo literário regional e transformador.
Diante do exposto, nós estudantes, sentimo-nos desejosos de que os próximos encontros possam ocorrer com o mesmo espírito livre, democrático, teórico e lúdico como este evento realizado em Maceió. Também possa absorver nossas sugestões e disposições para continuar colaborando com a formação intelectual dos estudantes do curso de Ciências Econômicas, futuros cientistas sociais.
Maceió, 08 de abril de 2012.
Subscrevem este documento:
1.
Ana Cristina Melo
2.
Daiane Teixeira dos Santos
3.
Engels Oliveira Rocha
4.
Gabriela Meneguitte de Oliveira
5.
Herberson Sousa Silva
6.
Iago Fernandes Botelho e Silva
7.
Igor Nogueira Mirante
8.
Jonathan Izaias Vieira Lopes
9.
Leandra Pereira da Silva
10.
Pedro Henrique Lopes
11.
Sandra Schwaab
12.
Sara Andrade de Oliveira
13.
Taís Varges Freitas
14.
Vinícius Barbosa de Moraes
15.
Vinícius Ribeiro Nolasco