Novas cédulas do Real começam a circular

Começaram a circular no último dia 13 de dezembro de 2010 as novas cédulas do Real. Primeiro chegaram as de cinquenta e de cem reais, as de menor valor só entram no mercado em 2012. De acordo com o Banco Central, a troca das notas antigas só devem acontecer num prazo de dois a três anos.

Os desafios do Estado na construção do desenvolvimento

O sistema capitalista revela em suas crises periódicas momentos especiais de profunda reestruturação. São oportunidades históricas em que velhas formas de valorização do capital sinalizam esgotamentos, enquanto novas formas ainda não se apresentam plenamente maduras no centro dinâmico do mundo

Por Marcio Pochmann*, na Margem Esquerda

Nessas circunstâncias, nada mais apropriado para países periféricos do que considerar as possibilidades reais e efetivas de assumir algum grau de protagonismo, até então impossibilitado pela antiga divisão hierárquica do poder mundial. O Brasil, em especial, mostrou condições de aproveitar oportunidades históricas geradas durante momentos de profundas crises e de reestruturação capitalista mundial.

Na Grande Depressão capitalista ocorrida entre 1873 e 1896, houve a sequência de um conjunto de reformas anteriormente reivindicadas. Destacam-se, por exemplo, a reforma eleitoral de 1881, que ampliou a representação nas províncias, a reforma trabalhista de 1888, que aboliu o trabalho escravo, a reforma política de 1889, que acompanhou a implantação da República, e a reforma jurídica estabelecida pela Constituição de 1891.

Dado o conservadorismo da oligarquia rural, os esforços reformistas do fim do século 19 terminaram sendo contidos diante do ciclo de prosperidade proporcionado pela economia primário-exportadora, sobretudo a parte ancorada no café. O anacronismo da República Velha, acomodado pelo liberalismo, postergou a longa transição do agrarismo para a sociedade urbano-industrial.

Com a Grande Depressão iniciada em 1929, o Brasil experimentou mais uma vez uma onda de reformas até então inéditas no capitalismo primário-exportador. Pelas mãos de uma grande e heterogênea frente política liderada por Getúlio Vargas, o país avançou de modo signifi cativo na direção do desenvolvimento de suas forças produtivas urbanas, especialmente industriais, acompanhadas de avanços regulados por políticas sociais e trabalhistas aos ocupados formais nas cidades.

Em menos de cinco décadas, o país tornou-se urbano e industrial, embora somente a metade de sua força de trabalho estivesse resguardada pelo sistema de proteção social e do trabalho, dada a postergação na realização das reformas clássicas do capitalismo contemporâneo (agrária, tributária e social).

Na crise atual do capitalismo globalizado, iniciada em 2008, o Brasil voltou a ter condições de protagonizar um novo salto desenvolvimentista, após a passagem de mais de duas décadas da regressão econômica e social e de sua contradição com a vigência do regime democrático sem paralelo em toda a sua história. Para isso, contudo, o país não deveria se perder em aspectos marginais, especialmente quando se trata de convergir para a consolidação de uma nova maioria política, capaz de sustentar o desenvolvimento brasileiro em novas bases econômicas, sociais e ambientais.

Dois aspectos dessa perspectiva são tratados a seguir em relação ao papel do Estado brasileiro, como nos caso da presença do país no mundo e da reconfiguração socioeconômica interna. Antes disso, contudo, considera-se o movimento maior de reestruturação no centro do capitalismo mundial processado.

Crise e reestruturação capitalista
A crise mundial nesta primeira década do século 21 poderá ser ressaltada no futuro próximo por ter promovido as bases de uma nova fase de desenvolvimento capitalista. Isso porque a crise atual se apresenta como a primeira a se manifestar no contexto do capital globalizado, uma vez que as depressões anteriores (1873 e 1929) ocorreram num mundo ainda constituído por colônias (pré-capitalista) e na presença de experiências nacionais de economias centralmente planejadas.

A nova fase do desenvolvimento depende crescentemente da retomada do capitalismo reorganizado, após quase três longas décadas de hegemonia neoliberal. Os quatro pilares do pensamento único (equilíbrio de poder nos Estados Unidos, sistema financeiro internacional fundado nos derivativos, Estado mínimo e mercados desregulados) tornaram-se cada vez mais desacreditados. A reorganização capitalista mundial pós-crise deve apoiar-se numa nova estrutura de funcionamento.

O tripé da expansão do capital consiste: (i) na alteração da partilha do mundo em função do policentrismo; (ii) na era da associação direta da ultramonopolização do setor privado com o Estado supranacional; e (iii) na revolução da base técnico-científica da produção e do consumo sustentáveis ambientalmente, conforme pode ser identificado na sequência.

Nova partilha do mundo
Com os sinais de fracasso do equilíbrio do mundo hegemonizado pelos Estados Unidos, após a queda do Muro de Berlim, tornou-se mais evidente o movimento de deslocamento relativo do centro dinâmico. Diferentemente da experiência anterior de transição da hegemonia inglesa para os Estados Unidos, consagrada pouco a pouco pela saída da crise de 1929, percebe-se hoje a possibilidade real do mundo pós-crise ser constituído pelo dinamismo policentrista. Ou seja, o fortalecimento de diversos centros regionais do desenvolvimento mundial.

Nos dias de hoje, os controversos sinais de decadência dos Estados Unidos parecem ser mais relativos do que absolutos, tendo em vista a desproporção econômica, tecnológica e militar ainda existente em relação ao resto dos países do mundo. Apesar disso, observa-se que no contexto de emergência da reestruturação no centro do capitalismo mundial ganham maiores dimensões os espaço mundiais para a construção de uma nova polaridade no sul da América Latina, para além dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ásia.

No âmbito sul-americano, as iniciativas de coordenação suprarregional remontam ainda à instituição do Mercosul, mas têm ganhado impulso desde a recente articulação supranacional em torno da Unasul e do Banco Sur. Isso tudo, entretanto, não pode representar apenas iniciativas de vontades políticas, pois dependem cada vez mais de decisões governamentais mais efetivas, por intermédio de políticas públicas que procurem referendar o protagonismo de um novo centro regional de desenvolvimento.

Essa possibilidade real de partilha do mundo em novas centralidades regionais implica – além da coordenação de governos em torno de Estados supranacionais – aceitação da parte dos Estados Unidos de uma reestruturação interna. Do contrário, cabe resgatar o fato de a fase de decadência inglesa desde a Primeira Guerra Mundial ter sido demarcada por grandes disputas econômicas e, sobretudo, militares entre as duas principais potências emergentes da época: Estados Unidos e Alemanha.

Ao mesmo tempo, a reação sul-americana à condição de economia exportadora de commodities para a China termina por equivaler ao retorno de uma situação que predominou até o início do século 20: a de exportadora de bens primários para a Inglaterra.

Inédita relação do Estado com a ultramonopolização privada
Na passagem para o século 21, o modelo de globalização neoliberal produziu, entre outros eventos, uma inédita era do poder monopolista privado. Até antes da crise mundial, não havia mais do que quinhentas corporações transnacionais com faturamento anual equivalente a quase a metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

No contexto pós-crise, tende a ser um contingente ainda menor de corporações transnacionais a governar qualquer setor de atividade econômica, o que pode resultar numa ultramonopolização privada sem paralelo histórico. Essa realidade possível faz com que os países deixem de ter empresas para que empresas passem a ter países.

A ruína da crença neoliberal explicitada pela crise atual tornou profundamente desacreditadas tanto a vitalidade dos mercados desregulados quanto a suficiência do sistema financeiro internacional assentado nos derivativos. Por isso, espera-se que algo de novo surja das práticas de socialismo dos ricos praticadas na crise mundial por intermédio das enormes ajudas governamentais às corporações transnacionais (bancos e empresas não financeiras).

A maior interpenetração governamental na esfera dos altos negócios ultramonopolistas do setor privado global pode dar lugar ao fortalecimento de Estados supranacionais, o que poderia alterar as condições gerais de produção dos mercados (regulação da competição intercapitalista e apoio ao financiamento das grandes empresas). Em resumo, percebe-se que a viabilização do capital ultramonopolista global tende a depender crescentemente do fortalecimento do Estado para além do espaço nacional.

Diante da maior instabilidade do capitalismo submetido a poucas e gigantescas corporações transnacionais – muito grandes para quebrarem a partir da própria lógica do mercado –, amplia-se o papel do Estado em relação à acumulação de capital. A coordenação entre os Estados supranacionais poderá permitir a minimização das crises diante da regulação da competição intercapitalista. Todavia, o estreitamento da relação cada vez mais orgânica do Estado com o processo de acumulação privada do capital global deve reverter-se no aprofundamento da competição entre os Estados nacionais.

Revolução na base técnico-científica e perspectivas da produção ambientalmente sustentável
O terceiro elemento do novo tripé do possível surgimento do capitalismo reorganizado encontra-se associado à mais rápida aceleração e internalização da revolução técnico-científica no processo de produção e consumo. Pelo conhecimento produzido até o momento acerca da insustentável degradação ambiental gerada pelas atuais práticas de produção e consumo, sabe-se que a saída da crise global não deveria passar pela mera reprodução do passado.

Nesse sentido, o padrão de produção e consumo precisa ser urgentemente reconfigurado. Para isso, não apenas a matriz energética mundial vem sendo alterada, como as alternativas de sustentabilidade ambiental tornam-se cada vez mais viáveis do ponto de vista econômico (lucrativas). Assim, as penalizações governamentais às atividades de produção e consumo degradantes ambientalmente devem crescer e ser politicamente aceitas, permitindo que um conjunto de inovações técnico-científicas possa fazer emergir um novo modelo de produção e consumo menos encadeador da maior mudança climática.

Da mesma forma, o avanço da sociedade pós-industrial, cada vez mais apoiada no avanço do trabalho imaterial, tende a viabilizar uma profunda reorganização dos espaços urbanos, fruto de exigências do exercício do trabalho em locais apropriados (fazenda para a agricultura e pecuária, fábrica e indústria para a manufatura, entre outros). Pelo trabalho imaterial, a atividade laboral pode ser exercida em qualquer local, não mais em espaços previamente determinados e apropriados para isso, bem como em qualquer horário.

Com isso, a reorganização social em comunidades territoriais torna-se possível, o que pode evitar o comprometimento temporal cotidiano com os deslocamentos de casa para o trabalho e vice-versa, entre outras tarefas comuns. Nesses termos, o fundo público precisará ser fortalecido muito mais com base na tributação de atividades de produção e consumo ambientalmente degradantes, assim como nas novas formas de riqueza vinculadas à expropriação do trabalho imaterial.

Somente a maior ampliação do fundo público poderá permitir a postergação do ingresso no mercado de trabalho a partir dos 25 anos, com o estabelecimento de mecanismos que permitam o processo de educação e aprendizagem para a vida toda e, ainda, jornada laboral de até 12 horas por semana. Tudo isso, contudo, pressupõe maioria política necessária para tornar realidade o que hoje se apresenta como mera possibilidade. Do contrário, o excedente de força de trabalho cresce, com atividades cada vez mais precárias e empobrecedoras, em meio à acumulação de nova riqueza global.

Recente reposicionamento brasileiro
Pela primeira vez desde a Depressão de 1929, a recuperação econômica mundial vem se realizando sob liderança de países não desenvolvidos. China, Índia e Brasil promovem cerca de dois terços da expansão econômica mundial desde a crise global em 2008, reafi rmando a via já observada desde o início da década de 2000. No caso brasileiro, o Estado apresentou-se como peça fundamental do reposicionamento do país no mundo, seja pela decisiva consolidação do gasto social com nova dinâmica econômica, seja pelo planejamento estratégico de coordenação dos investimentos no país.

Por um lado, a força emergente dos impulsos provenientes da economia social tende a se diferenciar do ciclo de expansão produtivo das décadas de 1930 e 1980, quando permaneceu secundária e subordinada às decisões de gastos privado e público. Até então, a máxima de crescer para depois distribuir predominava, implicando continuadamente no tempo um espaço, em geral estreito, para o avanço da autonomia relativa do gasto social. As bases da economia social atual originam-se da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu os grandes complexos do Estado de bem-estar social no Brasil, em especial no âmbito da seguridade social (saúde, previdência e assistência social), favoráveis a um avanço importante do gasto social absoluto e relativo ao PIB.

Nos dias de hoje, o gasto social agregado aproxima-se de 23% do PIB, quase dez pontos percentuais a mais do verificado em 1985 (13,3%). Ou seja, de cada quatro reais gastos no país, um vincula-se diretamente à economia social. Se for contabilizado também seu efeito multiplicador (elasticidade de 0,8), pode-se estimar que quase a metade de toda a produção de riqueza nacional encontra-se relacionada de modo direto e indireto à dinâmica da economia social.

O impacto econômico do avanço recente do Estado de bem-estar social no Brasil não tem sido ainda muito bem percebido. Tanto assim que continua a reinar a visão liberal-conservadora que considera o gasto social secundário, quase sempre associado ao paternalismo de governantes e, por isso, passível de corte. De maneira geral, registra-se que o rendimento das famílias depende, em média, de quase um quinto das transferências monetárias derivadas das políticas previdenciárias e assistenciais da seguridade social brasileira.

Antes da Constituição Federal de 1988, as famílias não chegavam a deter, em média, 10% de seus rendimentos das transferências monetárias. Os segmentos de menor rendimento foram os mais beneficiados pela constituição do Estado de bem-estar social, uma vez que em 2008 a base da pirâmide social (10% mais pobres) tinha 25% de seu rendimento dependente das transferências monetárias, enquanto em 1978 essa porcentagem era somente de 7%. Uma elevação de 3,6 vezes.

No topo da mesma pirâmide social (10% mais ricos), as transferências monetárias respondiam, em 2008, por 18% do rendimento per capita dos domicílios ante 8% em 1978. Ou seja, aumento de 2,2 vezes. Adicionalmente, observa-se que, em 1978, somente 8,3% dos domicílios cujo rendimento per capita situava-se no menor decil da distribuição de renda recebiam transferências monetárias, enquanto no maior decil as transferências monetárias alcançavam 24,4% dos domicílios.

Quarenta anos depois, constata-se que 58,3% das famílias na base da pirâmide social recebem transferências monetárias, assim como 40,8% do total dos domicílios mais ricos do país. Houve aumento de 7 vezes para as famílias de baixa renda e de 1,7 vezes para as famílias de maior rendimento.

Em virtude disso, podem-se tirar algumas conclusões a respeito do impacto das transferências previdenciárias e assistenciais sobre a pobreza. Sem as transferências monetárias, o Brasil teria, em 2008, 40,5 milhões de pessoas com rendimento de até 25% do salário mínimo nacional. Com a complementação de renda pelas transferências, o Brasil registra 18,7 milhões de pessoas com até um quarto de salário mínimo mensal. Em resumo, são 21,8 milhões de pessoas que conseguem ultrapassar a linha de pobreza extrema (até 25% do salário mínimo per capita). Em 1978, o efeito da política de transferência monetária impactava somente 4,9 milhões de pessoas.

No caso do efeito das transferências monetárias nas unidades da Federação, identificam-se dois aspectos inovadores que decorrem da emergência da economia social. O primeiro relaciona-se ao maior peso das transferências no rendimento médio das famílias nos estados nordestinos, como Piauí (31,2%), Paraíba (27,5%) e Pernambuco (25,7%), bem acima da média nacional (19,3%). Até aí, nada muito destoante do senso comum, salvo pela constatação de o Rio de Janeiro ser o quarto estado da Federação com maior presença das transferências no rendimento das famílias (25,5%, ante 16,4% em São Paulo).

O segundo aspecto decorre da constatação de que as famílias pertencentes aos estados mais ricos da Federação absorvem a maior parte do fundo público comprometido com transferências monetárias. Assim, a região Sudeste consome 50% do total dos recursos anualmente comprometidos com as transferências previdenciárias e assistenciais da seguridade social, dos quais 23,5% vão para São Paulo, 13,7% para o Rio de Janeiro e 10,9% para Minas Gerais.

A descoberta dessas novidades no interior da dinâmica econômica brasileira atual impõe a reavaliação da eficácia dos velhos pressupostos da política macroeconomia tradicional. A economia social sustenta, hoje, parcela significativa do comportamento geral da demanda agregada nacional, além de garantir a considerável elevação do padrão de vida dos brasileiros, sobretudo daqueles situados na base da pirâmide social.

Por outro lado, o planejamento agregado dos investimentos foi inicialmente retomado pelo bloco de recursos voltados para a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e, na sequência, para o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Nesse contexto, o país começou a ensaiar os últimos passos da transição da macroeconomia financeira para a da produção. Pelo lado da PDP, o país imprime intensa reestruturação patrimonial nos setores privados e estatal, com recursos públicos e reposicionamento dos fundos de pensão das empresas estatais.

Liderado pelo BNDES, o país forma também grandes empresas transnacionais (construção civil, alimentos, energia, siderurgia, transportes e outras) cujo objetivo é reinserir-se no espaço restrito da ultramonopolização da competição capitalista mundial, guiada por não mais do que quinhentas empresas transnacionais. Dessas, somente três possuem faturamento anual equivalente ao PIB brasileiro, atualmente o oitavo do mundo.

O estágio atual da reestruturação capitalista faz com que grandes empresas sejam maiores que Estados nacionais, e não sejam mais os países que detenham empresas, mas justamente o inverso. O Brasil, nesse caso, segue tardiamente a trajetória asiática de constituição de grandes empresas globais, após duas tentativas frustradas (na constituição de um grande holding do setor público durante o Plano Cruzado, em 1986, e na privatização dos anos 1990, que transferiu patrimônio público equivalente a 15% do PIB para o setor privado, sobretudo estrangeiro).

Nos últimos três anos, quase um terço do total dos recursos disponibilizados pelo BNDES foram canalizados para somente dez grandes grupos econômicos privados em processo de concentração e fusão. Se se considerar as empresas estatais, chega-se ao resultado de quase dois terços do total dos recursos (286 bilhões de reais) desembolsados pelo banco público para apenas doze grandes empresas nacionais privadas e estatais. Com isso, a coordenação dos investimentos estimulada pelo aparelho de Estado visa reduzir – quase duas décadas depois da equivocada privatização selvagem imposta pelas políticas neoliberais – a dependência e a subordinação do capitalismo brasileiro, cada vez mais associado à lógica do século 19 (produtor e exportador de produtos primários).

Com o deslocamento do centro dinâmico mundial dos Estados Unidos para a Ásia, em especial para a China, o Brasil, assim como toda a América Latina e África, passaram a assumir o papel de principal ofertante de commodities, o que leva passivamente à reprimarização de sua pauta de exportação. A PDP, nesse sentido, projeta o salvamento de alguns setores dessa triste trajetória de subordinação imposta pela trágica condução neoliberal do passado.

Na perspectiva do PAC, percebe-se o planejamento estratégico de concentrar recursos públicos na reconstituição da infraestrutura econômica e social, abandonada pelo neoliberalismo e depauperada por mais de duas décadas de desinvestimentos. Nos setores de energia (elétrica, fóssil, eólica), de saneamento e habitação popular e ainda de ferrovias, aeroportos, portos, estradas, tecnologias e outras, a roda da economia começou a se movimentar, com importantes impactos regionais e locais derivados da volta dos grandes projetos nacionais de reforço à integração nacional.

Dos mais de 1 trilhão de reais de investimentos previstos pelos PACs 1 e 2, quase quatro quintos deles encontram-se direcionados à energia e à infraestrutura urbana. Somente na programação de desembolsos para saneamento e habitação popular, destaca-se que 75% dos recursos são provenientes da Caixa Econômica Federal e visam reduzir o enorme déficit de moradia que atinge a base da pirâmide social, urbanizando parte das favelas situadas nos grandes centros metropolitanos do país.

Ao mesmo tempo, o conjunto de investimentos conduzidos pelo PAC tende a alterar a dinâmica regional. Com isso, parte do enorme vazio produtivo e ocupacional em grandes áreas do país passa a contar com investimentos que fortalecem a estruturas das atividades econômicas, o que contribui para reduzir o grau de concentração da renda nas regiões centro-sul.

Considerações finais acerca da refundação do Estado
Após 25 anos de consolidação do regime democrático, o Brasil parece constituir esforços importantes rumo ao projeto nacional de desenvolvimento. Ademais do obstáculo de consagrar uma nova maioria política que ouse mais na direção da transformação da crise mundial atual como oportunidade de maior reposicionamento do país no mundo, cabe ainda a árdua tarefa da refundação do Estado sob novas bases. Três podem ser seus eixos estruturantes.

O primeiro consiste numa reorganização administrativa e institucional que viabilize a reprogramação de todas as políticas públicas a partir da matricialidade e da integração setorial de suas especialidades. Enquanto o Estado funciona na forma de caixinhas setoriais (educação, saúde, trabalho e outros) e regionais, os problemas atuais tornam-se cada vez mais complexos e totalizantes, não podendo ser superados pela lógica de organização pública em partes que não se comunicam, quando concorrentes entre si. A fonte disso encontra-se centrada na recuperação do sistema de planejamento democrático e transparente de médio e longo prazos.

O segundo eixo concentra-se na necessária ampliação das políticas distributivas para as redistributivas. Ou seja, a transição da melhor repartição social do orçamento governamental para a expansão da progressividade do fundo público, com a redução da carga tributária sobre a renda do trabalho e a ampliação de impostos, taxas e contribuições sobre a renda do capital (lucro, juros, aluguel e renda de terras). Arrecadando mais e melhor, o Estado passa a alterar a desigualdade medieval que se mantém no Brasil.

O terceiro eixo refere-se à reinvenção do mercado, tendo em vista o poder dos grandes grupos econômicos sobre o Estado. Ademais das exigências de transparência e crescente participação social, o Estado precisa reconstituir-se fundamentalmente para o verdadeiro mar que organiza os micro e pequenos negócios no país, com políticas de organização e valorização do setor por meio da criação de bancos públicos de financiamento de produção e comercialização, fundos de produção e difusão tecnológica e assistência técnica (uma “embrapa” urbana) e de compras públicas. Algo nesse sentido ocorre de modo contido pela força do Sebrae, por crédito consignado e de bancos públicos e pelas novas leis (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e Micro Empreendedor Individual), mas há ainda muito o que fazer, e o cume seria a criação de um ministério específico para isso.

Esses são alguns dos passos que o Brasil precisa percorrer. A refundação do Estado é urgente e inadiável. A oportunidade trazida pela crise mundial é real, mas depende da capacidade interna de organizar uma nova maioria política, capaz de pôr em marcha o projeto nacional do desenvolvimento, sonhado por muitos e que agora ameaça se tornar realidade. O tempo, que é senhor de si, indicará proximamente quando o Brasil deixou de ser o país do futuro.

* Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea)

Matéria publicada originalmente em: Carta Capital


Agrotóxicos Não: organizações destacam danos causados pela substância

Karol Assunção *

Milhares de pessoas - principalmente trabalhadores (as) agrícolas - já foram ou ainda são vítimas dos agrotóxicos. Para chamar atenção da sociedade e de autoridades sobre os riscos à saúde humana e os danos ambientais causados pelo uso dessa substância, celebra-se, hoje (3), o Dia Internacional pelo Não Uso de Agrotóxicos ou Praguicidas. Na América Latina, diversas organizações camponesas e ambientais realizaram atividades para marcar a data.

Além das mortes e intoxicações de trabalhadores agrícolas e consumidores, os agrotóxicos também atingem o meio ambiente. A contaminação de ar, terra e água gera desequilíbrios, como a infertilidade da terra e o desmatamento, e contribui para a mudança climática e a perda de biodiversidade.
 
O Dia Internacional pelo Não Uso de Agrotóxicos ou Praguicidas foi estabelecido por organizações integrantes da Rede de Ação em Praguicidas (PAN, por sua sigla em inglês) em memória às vítimas da tragédia ocorrida em 1984, em Bophal, Índia. A fuga de mais de 25 toneladas de um gás tóxico utilizado na fabricação de praguicidas pela transnacional Union Carbide resultou na morte de milhares de pessoas. Informações dão conta de que 8 mil faleceram somente na primeira semana.

Apesar de o caso ser conhecido mundialmente, esse não foi o único. Antes dele, em novembro de 1967, dezenas de crianças morreram em Chiquinquirá, na Colômbia, vítimas de uma intoxicação pelo consumo de pão contaminado com paratião. A mesma substância fez outras 24 vítimas em outubro de 1999 em Tauccamarca, no Peru.

No Chile, de acordo com informações da Aliança por uma Melhor Qualidade de Vida, foram registradas seis mortes e 379 notificações de intoxicações agudas por praguicidas até o mês de setembro deste ano. A organização lembra que 23% dos casos ocorridos no país foram causados pelas categorias 1a e 1b, consideradas mais as perigosas dos agrotóxicos e ainda liberadas no Chile.

Algumas contaminações por praguicidas também marcaram a Venezuela. Segundo artigo de Armando Barradas, diretor nacional de saúde vegetal do Ministério do Poder Popular para a Agricultura e Terras, em junho deste ano, o derramamento de gases tóxicos da Empresa Formuladora Chemical Pro, em Aragua, resultou na intoxicação de cerca de 220 pessoas. Entre 1990 e 2008, de acordo com ele, o Ministério do Poder Popular para a Saúde registrou 65.353 pacientes intoxicados pelos venenos.

Frente a isso, Barradas ressalta alguns avanços no país em relação aos agrotóxicos. De acordo com ele, 256 praguicidas já foram retirados do registro nacional, dos quais 48 não tiveram os registros renovados devido ao alto teor tóxico. "Atualmente a empresa Chemical Pro está fechada por abertura de expediente administrativo por parte de autoridades; o país conta com uma Rede Nacional de Laboratórios de Bioinsumos em 22 municípios que permitem a promoção de uma agricultura sustentável", acrescenta.

Atividades
O Dia Internacional pelo Não Uso de Agrotóxicos ou Praguicidas foi marcado por atividades de reflexão sobre o uso dessas substâncias em diversos países da América Latina. No Paraguai, as ações ficaram a cargo da Coordenadora Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas (Conamuri).
 
Além de uma Feira de Comidas a base de milho, a celebração da data contou com debates sobre: efeitos dos agrotóxicos nas comunidades rurais e indígenas paraguaias; legislação vigente sobre agrotóxicos e seu uso na produção nacional; contaminação da água por causa dos praguicidas; Lei do Milho; entre outros. As atividades aconteceram na Plaza de los Héroes, atrás do Panteón Nacional e contaram com a participação de autoridades e pesquisadores da temática.
 
Colombianos e colombianas também tiveram oportunidade de participar de ações no dia de hoje. Organizada pelo Conselho Seccional de Praguicidas de Antioquia (CSPA), a "Comemoração do Dia Mundial do Não Uso de Agrotóxicos" contou com atividades acadêmicas e de reflexão no auditório "Noberto Vélez Escobar", em Medellín.

* Jornalista da Adital


País tem primeiro Sistema de Comércio Justo e Solidário do mundo

O Brasil agora tem o primeiro Sistema de Comércio Justo e Solidário do mundo reconhecido e fomentado pelo Estado, graças ao decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a reunião plenária do Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES), realizada nesta quarta-feira (17) em Brasília (DF). Com ele será possível consolidar e ampliar as políticas públicas para o setor e tornar perenes as conquistas dos trabalhadores brasileiros, disse o presidente durante o seu discurso na solenidade. Na oportunidade, também foi assinado decreto instituindo o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas.

O Sistema Nacional do Comércio Justo e Solidário é um conjunto de parâmetros a serem seguidos na execução de políticas públicas voltadas à geração de trabalho e renda por meio de ações de promoção da economia solidária e do comércio justo. Entre seus objetivos estão: apoiar processos de educação para o consumo com vistas à adoção de hábitos sustentáveis e à organização dos consumidores para a compra dos produtos e serviços do comércio justo e solidário; fortalecer uma identidade nacional de comércio justo e solidário, por meio da difusão do seu conceito e do exercício das práticas que lhe são inerentes; e favorecer a prática do preço justo para quem produz, comercializa e consome.

A economia solidária, afirma o presidente, é uma alternativa para a geração de emprego e renda, além de importante saída para incentivar o País a adotar hábitos sustentáveis de comércio, que seja justo e solidário. O Brasil já é referência mundial no assunto desde 2003, quando foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária. E a ação só se tornou bem sucedida, afirmou Lula, porque o governo instituiu um diálogo permanente com a sociedade civil para construir as políticas públicas necessárias.

"Valeu a pena todo o esforço realizado por este governo para fortalecer a economia solidária no Brasil. Mas é preciso reconhecer que ainda há muito a ser feito. A atuação desse Conselho Nacional de Economia Solidária e a realização periódica das Conferências Nacionais certamente vão continuar garantindo as condições para que trabalhadores e trabalhadoras do País possam construir uma rede de economia solidária cada vez mais sólida e sustentável", destacou.

Lula explicou, ainda, que a grande aceitação de seu governo por parte dos brasileiros se deu por iniciativas como essa, que beneficiam diretamente a população, e pela relação de honestidade que estabelecida com a sociedade desde o início do governo. Aos trabalhadores do comércio solidário, Lula agradeceu a crença em seu governo e pediu para que continuem acreditando, pois, segundo ele, a presidente eleita, Dilma Rousseff, "fará mais e melhor" a partir de janeiro de 2011.

"Na hora em que a gente estabelece essa relação verdadeira, em que eu olho nos olhos de vocês e vejo que vocês não estão mentindo para mim e vocês olham em meus olhos e veem que eu não estou mentindo para vocês, está consolidada a coisa mais perfeita de nossa passagem pela Terra, que é a confiança entre os seres humanos. Porque no fundo, no fundo, só vale a pena ser presidente da República se as pessoas que te elegeram confiarem em você", declarou.

O áudio do discurso do Presidente está disponível em: http://blog.planalto.gov.br/economia-solidaria-brasileira-e-exemplo-para-o-mundo/
 

Empreendimentos têm até dia 24 para se inscrever na II Mostra Nacional de ES

De 8 a 12 de dezembro a Praça Wilson Lins (Pituba), em Salvador, na Bahia, será sede da II Mostra Nacional de Economia Solidária (ES). A feira acontece juntamente com o I Seminário de Comercialização Solidária da região Nordeste e com a VI Feira Baiana de Economia Solidária e Agricultura Familiar. Os empreendimentos interessados em participar das atividades na Bahia têm até o próximo dia 24 para se inscrever.

Os fóruns e as redes estaduais irão selecionar até 20 participantes entre formais e informais, rurais e urbanos. Também é determinado que vários setores como os de comercialização, crédito, consumo e outros, participem da Feira. É aconselhado garantir a presença de empreendimentos quilombolas, indígenas, pessoas com deficiência e usuários do sistema de saúde mental.

A lista com a inscrição dos 20 empreendimentos selecionados pelos Fóruns Estaduais deverá ser enviada para a Coordenação Nacional, no site da II Feira, http://cirandas.net/feiranacionaldeeconomiasolidaria.

Os eventos têm por objetivo dar mais visibilidade às atividades desta economia de base popular, preocupada com o consumo consciente, preservação ambiental e valor do trabalho humano em grupo. Eventos como estes contribuem para o fortalecimento da Economia Solidária no Brasil, na construção de uma identidade nacional comum entre os diversos atores envolvidos neste processo, desde empreendedores (as), gestores (as), entidades de apoio e fomento, e assessorias.

Segundo Wilson Doll, secretário executivo da II Mostra Nacional, "a feira vem consolidar o espaço em todas as esferas e agregar atores, além de dar visibilidade ao movimento de Economia Solidária". Ele ressaltou a integração regional dos empreendimentos econômicos solidários e destacou o espaço de diálogo entre movimentos sociais, culturais e sociedade, promovido pelo evento.

De acordo com a coordenação nacional da Feira, estarão reunidos 600 expositores (as), sendo os 20 selecionados de cada estado, com exceção da Bahia que participará com 80 expositores (as), por conta da realização da Feira Estadual. Durante os eventos, o público terá acesso ainda às atividades de formação que acontecerão o dia inteiro, e momentos culturais.

Mais informações através do site:http://cirandas.net/feiranacionaldeeconomiasolidaria

Fonte: Adital

Emprego na construção civil bate recorde no Brasil

O nível de emprego na construção civil brasileira cresceu 0,94% em setembro ante agosto, com a criação de 26,5 mil novos postos de trabalho formais, de acordo com a pesquisa mensal feita pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2010, o setor acumula aumento de 15,84%, com a inclusão de 389,2 mil trabalhadores. No acumulado de 12 meses, a alta é de 15,89%. O número de empregados formais na construção civil brasileira atingiu 2,846 milhões, novo recorde da série histórica.

Embora positivo, a geração de postos de trabalho no setor no mês de setembro é inferior ao informado em agosto, quando foram contratados 48,6 mil trabalhadores, e em julho, com 45,7 mil contratações. Em nota, o presidente da entidade, Sergio Watanabe, pondera que ainda não se pode afirmar se essa desaceleração é uma tendência. "Por enquanto, ficou claro que, em alguns locais, não começaram novas obras em ritmo maior do que aquelas que se encerraram. Mas, em outras localidades, a demanda por mão de obra continuou crescendo, como na Região Nordeste, com a contratação de 11,6 mil trabalhadores."

No Estado de São Paulo, a desaceleração foi mais forte, com acréscimo de apenas 0,09% no indicador em setembro, com a contratação de 683 trabalhadores, ante 6.841 contratações registradas em agosto e 7.132 em julho. No ano, foram agregados mais 66,7 mil empregados formais (alta de 9,77%) e, em 12 meses, 67,5 mil (aumento de 9,91%).

Fonte: O Estadão

Com crédito de R$ 1 bi, agronegócio só produziu metade do valor

Ao final de 2010, a safra brasileira de grãos deverá bater o recorde nacional e atingir a marca de 148 milhões de toneladas, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A área a ser colhida é de 46,7 milhões de hectares, 1% inferior ao último ano.

O Paraná é um dos responsáveis pelo recorde. Sozinho, o estado responderá por 21,5% da safra 2010. Esses números podem ser explicados pela pesquisa coordenada pela professora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Baseada nos censos agropecuários do IBGE de 1995/96 e 2006, ela analisou as transformações territoriais ocorridas nos estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul e chegou a resultados surpreendentes.

Em entrevista à Radioagência NP, a professora garante que a agricultura familiar é responsável pela comida que está na mesa do brasileiro. Ela anuncia que o agronegócio recebeu financiamento de R$ 1 bilhão e produziu apenas a metade desse valor. Já as pequenas propriedades multiplicaram por 20 a quantia recebida.

Radioagência NP: Professora, entre os estados analisados, qual deles teve o melhor desempenho agrícola e como isso se explica?
 
Rosemeire Aparecida de Almeida: Nós podemos dizer que o estado do Paraná tem uma estrutura fundiária mais democrática, em comparação com o Mato Grosso do Sul. E essa estrutura fundiária democratizada é responsável por uma maior geração de renda e também de ocupação. No estado do Paraná 0,32% dos estabelecimentos possuem mais de 1 mil hectares, o que representa 19% da área. No Mato Grosso do Sul, é 10% dos estabelecimentos dominando mais de 76% da área.

RNP: Dê um exemplo de como essa diferença se reflete na produção.

RAA: O rebanho bovino do norte central paranaense é cinco vezes menor em relação à região leste do Mato Grosso do Sul. Porém, a quantidade de leite produzido é superior. No caso da região leste [MS], 42% do leite produzido vêm de estabelecimentos até 100 hectares. Na região norte paranaense, representa 76% dessa produção.
 
RNP: Como o agronegócio atua nessas regiões?
 
RAA: Ele vem se apropriando das melhores áreas no MS. Há um recuo do arroz e do feijão. Nós só não tivemos uma crise de desabastecimento porque aumentou a produtividade e 64% dessa produção foi de responsabilidade das pequenas unidades de produção, tanto no MS quanto no Paraná. Então, a gente pode dizer com muita segurança que as pequenas propriedades são responsáveis pela comida que está na mesa dos brasileiros.

RNP: O que você observou na comparação entre os índices de financiamento público e a produtividade?

RAA: A classe de área de mais de mil hectares no MS obteve financiamento de mais de R$ 1 bilhão e gerou um valor de produção de R$ 524 milhões. A pequena unidade de produção, com menos de 50 hectares, acessou R$ 2,4 milhões – ou seja, 0,21% do valor de financiamento – e gerou um valor de produção de R$ 42,9 milhões. Isso quer dizer que as áreas menores que 50 hectares multiplicaram por 20 o valor do financiamento. E a grande propriedade dividiu por dois o valor do financiamento.

RNP: O agronegócio se sustenta com monocultivos como o da soja?

RAA: Existem muitos dados, inclusive em relação ao questionamento da grande propriedade como sinônimo de progresso, de geração de emprego e de produtividade. O que é um mito, uma ideologia. Quando olhamos os dados referentes ao MS, percebemos que a produtividade alegada pela soja é a de grande extensão de terra. É uma produção que está açambarcando as terras disponíveis, mas quando analisamos a produtividade por hectare, ela é insignificativa em relação ao censo anterior.

RNP: Por que há tanta resistência em relação à atualização dos índices de produtividade?

RAA: A gente fala como se a grande propriedade fosse sinônimo de agronegócio. E não é verdade. O MS tem oito milhões de hectares de terras improdutivas, um dos estados que é o eixo de sustentação do agronegócio. Apenas uma parte da grande propriedade se modernizou no país. O restante é reserva de valor. Daí, a luta contra a revisão dos índices [de produtividade], que são da década de 1970. A revisão é necessária, é uma dívida que tem que ser paga pelo Governo Dilma. E mais do que isso, deve ser utilizada como um termômetro da existência da improdutividade, que é o mote da reforma agrária no país.

RNP: Que critérios devem ser observados nos programas de reforma agrária?

RAA: A estrutura fundiária voltada a estabelecimentos onde as pessoas não só trabalham, mas também vivem, gera uma dinâmica local. A política agrária do Brasil deve concentrar os assentamentos em determinadas microrregiões para que se possa impactar a cidade porque essas pessoas vão viver do comércio local e também vão produzir para o mercado da cidade.

De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo



Quem quer dinheiro?

Por Gerson Freitas Jr

A boa fase da economia nacional e a sobra de recursos elevam a captação das empresas no exterior


A Vale conseguiu levantar dinheiro com facilidade este ano

O Brasil nunca foi tão beneficiado por uma crise econômica mundial. Basta dizer que, dois anos após a quebra do Lehman Brothers e o estouro da bolha imobiliária norte-americana, a oferta de dólares para financiar as companhias nacionais é a maior da história. Entre janeiro e setembro, as empresas do País captaram mais de 32 bilhões de dólares com a emissão de bônus em moeda estrangeira. O volume supera o recorde de 26,2 bilhões de dólares, registrado em 2009. Até o fim do ano, as companhias terão absorvido mais de 40 bilhões em financiamentos, segundo diferentes previsões.

O ritmo das captações intensificou-se em setembro. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o País colocou no mercado internacional mais de 8 bilhões de dólares em títulos da dívida privada nesse período. Vale, CSN, Gerdau, Telemar e Itaú Unibanco tomaram mais de 1 bilhão de dólares cada. A Suzano Papel e Celulose emitiu notas no valor de 650 milhões de dólares, acompanhada por Odebrecht Finance (500 milhões) e Banco Cruzeiro do Sul (400 milhões). O frigorífico JBS Friboi, que havia captado 700 milhões de dólares em julho, emitiu mais 200 milhões em notas no mês passado.

Eduardo Borges, diretor de Mercado de Capitais do Banco Santander, afirma que a maior parte dos papéis emitidos pelas empresas brasileiras vence em dez anos – prazo mais aceito pelos grandes fundos norte-americanos – e oferece juros que oscilam entre 5,5% e 9,5% ao ano. De modo geral, o dinheiro é usado para refinanciar dívidas passadas. “As empresas estão aproveitando o cenário favorável para fazer gestão de passivos, realinhar suas obrigações com taxas de juro mais baixas e adiantar recursos para investimentos no ano que vem”, afirma o executivo.

Matéria publicada Originalmente em: Carta Capital


O Brasil e as políticas econômicas de combate à crise financeira

Por William Nozaki* e Gabriel Rossini**


A crise internacional e a economia nacional

Nos últimos anos, a economia brasileira esteve exposta às flutuações dos fluxos financeiros, comerciais e produtivos internacionais. Pelo lado externo, o país foi impulsionado, pela crescente demanda comercial asiática (sobretudo chinesa) e pela subida das cotações financeiras das commodities (na esteira das bolhas americanas). Pelo lado interno teve importante papel, o aquecimento do mercado doméstico a partir do fortalecimento do sistema bancário e creditício, os programas de transferência de renda e a recuperação do salário mínimo real. Desse modo, o crescimento do PIB nacional alicerçou-se no aumento da exportação (sobretudo para a Ásia) e na ampliação do consumo (principalmente via crédito).

A crise financeira internacional aportou no Brasil ameaçando esses dois alicerces do desempenho econômico favorável. A retração da economia global acarretou uma queda na demanda internacional por produtos ocasionando uma redução nos volumes e preços das exportações; além disso, a diminuição na oferta de dinheiro em circulação ocasionou a escassez de fontes de crédito e financiamento. Entretanto, outros fatores combinam-se a esses e merecem atenção.

Dados os problemas estruturais para a formação de funding, e postos os incentivos para a abertura financeira, no Brasil a estrutura de financiamento empresarial está crescentemente associada à captações no mercado financeiro e de capitais – contexto que pode ser evidenciado pelo fato das empresas nacionais estarem desvinculadas do sistema bancário nacional continuamente dedicado às funções tradicionais: financiamento de curto prazo às empresas e crédito ao consumidor. Tal fato faz com que a economia nacional esteja, em comparação com outros países emergentes asiáticos e sul-americanos, mais suscetível às oscilações financeiras internacionais e mais vulnerável à alterações nos ciclos de liquidez global.

Além disso, diante da tendência conjuntural de valorização cambial no país, no período imediatamente anterior à crise, as empresas exportadoras realizaram transações arriscadas com derivativos, ou seja: apostando na continuidade da valorização cambial tais empresas realizaram junto aos bancos operações, no mercado de futuros, de compra de dólares. Embora o objetivo tenha sido compensar perdas operacionais nas exportações com receitas financeiras, diante da desvalorização cambial acarretada pela crise, os resultados foram volumosas perdas, principalmente para grandes empresas exportadoras de commodities.

Por fim, a persistência de certas diretrizes de política econômica fizeram com que a sobrevalorização cambial e a sobre-elevação da taxa de juros permanecessem como tendências da economia brasileira no período anterior à crise, diante disso a resistência para a diminuição do superávit primário e para a diminuição dos juros fizeram com que o país tivesse mobilizado seu aparato de políticas anti-cíclicas com um relativo atraso em comparação com as decisões que se tomavam no cenário internacional e na própria América Latina.

Sendo assim, questões estruturais relativas ao financiamento, questões conjunturais relativas ao câmbio e ao juros e certas decisões de política econômica merecem atenção para que se possa compreender a atuação do Estado nacional brasileiro diante da crise.

A crise internacional e o Estado-nacional

Nesse novo cenário, entre 2008 e 2010, o aparente espaço existente entre estratégias do Estado e os interesses do mercado caiu por terra. A falta de liquidez e o risco de insolvência tornaram obrigatória a presença da regulação, da fiscalização e do crédito estatal.
 
Temos aí, diga-se de passagem, mais uma boa oportunidade de presenciarmos a derrubada da tese jogada aos sete ventos por, dentre outros veículos de comunicação, a revista The Economist e o jornal Financial Times. Enquanto o editorial, de 11 de outubro de 2008, do primeiro periódico fala-nos que: “este é o momento de colocar dogma e política de lado e concentrar-se em respostas pragmáticas. Isso significa mais intervenção governamental e cooperação no curto prazo, mais do que os contribuintes, políticos e jornais do livre-mercado normalmente gostariam”. A segunda publicação (21/08/2008) nos diz que: “no conflito perene entre a política e o mercado, não há dúvida, que neste momento, a política está por cima”.

Tais passagens são construídas em torno de uma inverdade que de tanto ser reproduzida acaba sendo aceita. A tese sustentada pelos jornais se apóia na idéia equivocada da existência de um “conflito perene”, entre a Política e o Mercado. O problema básico desta tese reside na preservação da dualidade que está na base do pensamento liberal: o “mercado” como esfera primeira, como o reino da liberdade e das entidades naturais e a “política” como esfera artificial, como o reino da arbitrariedade humana.

No Brasil, ao longo do pós-crise, a inexistência de tal dualidade pôde ser explicitada através das medidas adotadas pelo Banco Central do Brasil e pelo Ministério da Fazenda, como a liberação de parcela dos compulsórios dos bancos, tanto desobrigando da aplicação em títulos do tesouro como autorizando seu uso na aquisição de carteiras de crédito de instituições financeiras em dificuldade; como a realização de leilões de moeda estrangeira, o reforço da carteira de bancos oficiais além das isenções tributárias (como do IPI de automóveis, eletrodomésticos e construção civil, e do IOF para créditos a pessoas físicas); bem como as ações dos bancos públicos (Caixa, Banco do Brasil e Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES) que ampliaram o volume de crédito para o financiamento de investimentos, tanto em obras sociais – setor de habitação, por exemplo – como na realização de projetos de infra-estrutura e de expansão da estrutura produtiva (voltaremos a este ponto).

A partir do último trimestre de 2009, a economia brasileira ensaiou seus primeiros sinais de recuperação, que foram consolidados no primeiro trimestre de 2010. Para boa parte dos analistas, as causas apontadas para a rápida melhora residem, por um lado, na recuperação do cenário externo e, por outro, nas políticas econômicas anticíclicas implementadas pelo governo. Entretanto, nem todas essas medidas tiveram o mesmo impacto para a amenização da crise no país.

A rigidez na manutenção das diretrizes ortodoxas da política econômica de longo-prazo diminuiu, quando não solapou, os próprios ganhos conquistados com as medidas anticíclicas. A demora e o conservadorismo na redução dos juros, somados a elevados spreads e tarifas cobradas pelos bancos privados, dificultaram em um primeiro momento a circulação do crédito. Do mesmo modo, a leniência na gestão cambial ajudou pouco o setor exportador e as grandes empresas; representantes das indústrias de bens de capital se queixaram não poucas vezes de que a injeção de liquidez e os recursos estatais liberados aos bancos não estavam circulando e se convertendo em financiamento e empréstimos, o empoçamento da liquidez era nítido.

Dentre as políticas com maior impacto sobre a reativação da economia destacaram-se algumas de cunho social: os gastos públicos para reajuste do salário mínimo, com transferências de renda, com previdência social. A expansão desses gastos, especialmente do salário mínimo, possibilitou a manutenção do consumo, em especial das classes sociais mais baixas, minimizando os efeitos restritivos impostos pela crise. Desse modo, o consumo estimulado tanto pelo aumento da renda quanto pela melhora na sua distribuição atuou como um importante ativador da demanda durante a crise, induzindo posteriormente o próprio investimento.

Merecem atenção também, como já mencionado, as medidas de desoneração fiscal, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis, eletrodomésticos e construção civil, e do IOF para créditos a pessoas físicas. Apesar de esse conjunto de desonerações não ter atingido uma expressiva parcela do PIB (alcançaram algo em torno de 0,3%), eles se mostraram importantes incentivos para a manutenção e ampliação do consumo, mas também serviram como estímulos para o investimento privado que sem eles poderia ter se desacelerado em maior velocidade.

Ademais, a manutenção dos grandes investimentos do setor público planejados, principalmente no âmbito da Petrobrás e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram também importantes para que a rota de recuperação se iniciasse já em 2009.

Novamente com relação à política creditícia, os grandes bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES) foram os responsáveis pela sustentação do mercado de crédito brasileiro, uma vez que a expansão do crédito público ocorreu de forma mais acentuada e acelerada do que o avanço do crédito privado.

Temos aí o apoio financeiro do BNDES incentivando a compra de empresas no exterior por parte de empresas brasileiras e patrocinando o financiamento de fusões e aquisições entre empresas nacionais.

O Banco do Brasil elevou o crédito oferecido a consumidores e empresas, em especial para operações relacionadas a comércio exterior e crédito rural, minimizando os efeitos do corte de crédito realizado pelos bancos privados, sobretudo entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. Além disso, intensificou a compra de carteiras de crédito de pequenas instituições bancárias, mais ainda avançou no processo de aquisição de três bancos estaduais e adquiriu grande participação no banco Votorantim. O Banco também promoveu corte nas taxas de juros em diversas modalidades de crédito.

A Caixa Econômica Federal, por seu turno, aproveitou o cenário para fazer avançar sua tradicional atuação no financiamento habitacional de saneamento básico e infra-estrutura urbana. Para isso atuou expandindo linhas de crédito, reduzindo taxas de juros.

Desse modo, não é exagero afirmar que a medida anticíclica mais destacada não veio nem da área cambial tampouco da monetária, a despeito da inegável relevância de cada uma delas. Veio, sim, da política fiscal, e principalmente, da orientação que o governo transmitiu aos bancos públicos para que ampliassem seus financiamentos.

Perspectivas futuras

Certamente, esse princípio de recuperação apresentado entre 2009 e 2010 não se deveu ao fim dos efeitos deletérios da crise financeira internacional, e ainda que por trás dela haja um componente do cenário externo fundamental – o restabelecimento da demanda por produtos latino-americanos e brasileiros, principalmente commodities agrícolas e minerais por parte dos países asiáticos – as políticas econômicas (sobretudo as fiscais creditícias, mais do que as monetárias) cumpriram um papel central nessa recuperação.

O país encontrou na crise com uma possibilidade para a conformação de políticas e medidas anticíclicas mais expansionistas, por um lado, através de uma política fiscal e creditícia mais contundente e, de outro lado, por meio de uma política cambial ativa, mas emergencial. Contrariando este movimento tivemos uma política monetária conservadora que rapidamente arrefeceu o crescimento econômico brasileiro.

Resta considerarmos se a nova “normalidade” oriunda do êxito da política anticíclica posta em marcha – largamente dependente de subsídios e de privilégios garantidos pelo Estado – será duradoura.
 
Para a perenidade desta nova “normalidade”, carregada de elementos que potencializam a sua efemeridade, é fundamental que se revejam as diretrizes da política econômica, sobretudo da sua vertente monetária.

Por fim, a questão relacionada a acentuada valorização cambial vivenciada hoje pelo Brasil constitui o elemento central que pode nublar o nosso horizonte de crescimento econômico. Para além das políticas domésticas um importante problema que se coloca é a enorme pressão exercida pelo capital financeiro internacional que foi preservado em virtude do empréstimo de última instância que transformou valor perdido em valor financeiro garantido com receita fiscal, fornecendo uma tábua de salvação a capitais que buscam apenas preservar-se, mas que estão em retirada do processo produtivo. O capital ocioso não eliminado acaba por travar o funcionamento do sistema, tornando-o mais instável. Em função das dificuldades de valorização do capital investido na produção, este elevado volume de capital dinheiro movimenta-se pelo mundo procurando satisfazer sua própria necessidade de valorizar-se exteriormente ao processo produtivo. Dada a elevadíssima taxa de juros brasileira e, em alguma medida, às oportunidades abertas pelo nosso crescimento presenciamos o agravamento dos nossos problemas cambiais.

Permanecendo a valorização cambial, a reprimarização da pauta exportadora brasileira torna-se um risco, hoje o imbróglio cambial talvez seja o principal desafio que a economia brasileira terá que enfrentar.


*William Nozaki é mestre e doutorando em Desenvolvimento Econômico (IE- UNICAMP), pesquisador-bolsista do PNPD-IPEA no programa Arquitetura Financeira Internacional.

**Gabriel Rossini é mestre em Desenvolvimento Econômico (IE-UNICAMP), professor do Departamento de Economia da PUC-SP e do CCSA-Mackenzie.





Declaração da III Assembleia Latino-americana da Juventude Campesina

Leia a declaração da Juventude Campesina latino-americana, realizada durante Assembleia em Quito, Equador.

Nos dias 8 e 9 de outubro de 2010 - dia em que se comemora o aniversário da morte do comandante Che Guevara, e o Dia Internacional da Juventude Rural - reunimos 172 delegados e delegadas de 52 organizações em 17 países membros em toda a América Latina da Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC/LVC), além de convidados e representantes da Ásia e da Europa, totalizando cerca de 250 participantes para a troca de diferentes experiências e lutas dos jovens rurais, indígenas e afro-descendentes. Isto nos permitiu construir propostas e medidas específicas para o fortalecimento da articulação da juventude em nível continental.
 
Vivemos em uma época de crise global, onde existem três projetos diferentes de disputa política, social e econômico. Um deles é o projeto imperialista que se caracteriza pela presença de multinacionais, a criminalização da pobreza e conflitos sociais, a promoção do agronegócio. Outra, é a Unasul, que opera sob o discurso da conciliação de classes com ações concretas de integração continental e desenvolvimento, mas não o confronto direto com o imperialismo. Finalmente, há o projeto da ALBA, que se manifesta como uma estratégia de construção e reforço do poder do povo, sob os princípios da integração regional.

Por esta razão, denunciamos:

- A crise alimentar, econômica e social gerada pelo capitalismo

- A pilhagem e a privatização dos recursos naturais do nosso povo.

- A invasão territorial do modelo capitalista, através da implementação de sistemas produtivos alheios a concepção de nossos povos, por meio de instrumentos como algumas agências que servem ao império.

- O uso dos meios de comunicação como um instrumento de dominação que restringem a liberdade de pensamento.

- A imposição cultural a jovens através da mídia, que promove um modelo de vida baseado no consumismo, individualismo, sexismo e outros vícios do sistema capitalista

- O agronegócio como um resultado da aliança entre as empresas multinacionais, latifundiários e instituições financeiras, com os mega projetos de infra-estrutura, como a IIRSA e outros projetos da mesma natureza feitos pelos Estados para impor a sua concentração de terra, a produção de monocultura para exportação e a estandartização de alimentos.

- Implementação de políticas e programas assistenciais na América Latina, que não resolvem os problemas, ao passo que ocultam as políticas neoliberais e geram fragmentação, conformismo e dependência de comunidades.

- A adequação das legislações promovidas pelos governos a serviço das corporações transnacionais e dos interesses do capital.

- O aumento da concentração da propriedade da terra.

- A produção de alimentos que são basicamente para exportação e que anda de mãos dadas com o desenvolvimento de monoculturas e o uso de sementes transgênicas, que implicam no elevado uso de agrotóxicos.

- As ações repressivas dos Estados capitalistas através da militarização do povo, sob a suposta promoção da segurança nacional ante o terrorismo, o narcotráfico e outros slogans, que justificam a imposição das bases militares e o alistamento compulsório de jovens no serviço militar, assim como o controle dos povos e territórios.

- A manipulação e violação de Direitos Humanos pelo capitalismo, diante de Estados servis que não trabalham para o desenvolvimento da população em geral. Neste contexto, destacamos a falta de acesso à saúde, educação e terra.

- As empresas privadas não permitem o desenvolvimento local de pequenos e médios produtores, uma vez que promovem o consumismo e apagam nossas culturas e identidades.

- A violência à liberdade de expressão por meio de diversas formas de criminalização dos protestos e da pobreza. Também condenam todas as formas de discriminação contra as classes sociais, genêros, credos, entre outros.

- A ação das empresas transnacionais de mineração, hidrelétricas e agroindústrias que saqueam nossos recursos naturais.

- O livre comércio como uma forma de submissão dos nossos países ao imperialismo.

Diante desses problemas, os jovens rurais, indígenas, urbanos, internacionalistas, africanos e combativos; participantes do Congresso da CLOC/LVC declaram:

- Continuamos a defender a vida, justiça e soberania de nossos povos.

- Continuamos lutando por mudanças em nossa sociedade que passam pela reforma agrária integral, soberania alimentar e construção de poder popular a partir de processos que geram uma consciência coletiva.

- Nos assumimos como militantes e membros transformadores da realidade que precisam promover a formação para sermos parte da construção de uma sociedade justa e igualitária.

- Incentivar a revolta e indignação desta sociedade que nos oprime para fomentar os processos de luta e transformação.

- Defender valores e princípios que nos identificam como jovens na luta contra o imperialismo, como solidariedade, autonomia, integração, construção de unidade, diversidade, pluralidade, empenho, dedicação, respeito e dedicação.

- Respeitar a Terra e seus recursos naturais, de modo a manter a produção de alimentos saudáveis.

- Promover a agroecologia e formas de produção dos camponeses e povos afros e indígenas como alternativas para a crise alimentar e os preços elevados no mercado mundial.

- Defender o direito coletivo à terra e ao território e que não há soberania sem a organização popular.

- Reforçar o funcionamento do CLOC/LVC a partir de nossas organizações de base.

- Como os jovens, enxergamos a ALBA como um projeto estratégico para desenvolver uma ligação entre as áreas rural e urbana e, assim, devemos espalhar a compreensão e as ações deste projeto.

Com isso, decidimos:
 
- Avançar nos processos de formação ideológica, política e técnica, com prioridade para as mulheres, jovens e crianças, assim como buscar linhas comuns de formação em nível latino-americano, que sejam complementares em forma e métodos, considerando a pluralidade do continente, buscando formar nossos próprios técnicos e formadores

- Construir, melhorar e reforçar os mecanismos de comunicação das nossas organizações internas e externas que nos permitem gerar canais de comunicação mais objetivos, democráticos e participativos, buscando desenvolver uma agenda de ação comum.

- Para concretizar esses acordos, formamos uma coordenação continental durante a assembleia, que busca articular a juventude das organizações CLOC/LVC, composto por dois representantes de cada sub-região.

A Terceira Assembléia da juventude continental da CLOC/LVC se declara ainda:

- Pelo retorno imediato dos 5 heróis cubanos prisioneiros na prisão dos EUA por mais de 12 anos e contra o bloqueio econômico por mais de 50 anos com a república de Cuba.

- Contra a perseguição e assédio contra os dirigentes e militantes de movimentos sociais de nossos povos, como no caso da Colômbia, Piedad Córdoba, Honduras, Haiti, Guatemala e todos os povos que lutam.

- Rejeitamos o golpe de Estado em Honduras e a tentativa de golpe no Equador e todos os governos que buscam se impor pela força, bem como a instalação de bases militares dos EUA na Colômbia e em todos os países do continente que promovam esses processos de dominação

- Finalmente, oferecemos nossa solidariedade a todos os povos que lutam por um modelo de sociedade justo e soberana.

Vamos globalizar a luta e a esperança,

JUVENTUDE CAMPESINA, INDÍGENA, URBANA, INTERNACIONALISTA E COMNATIVA PELA VIDA, JUSTIÇA E SOBERANIA DE NOSSOS POVOS