Por Leandra Silva*
O objetivo deste trabalho é analisar a atual conjuntura da agricultura brasileira apresentada no filme O Veneno Está na Mesa, lançado neste ano de 2011, produzido pelo cineasta Silvio Tendler. Com o apoio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e da Fiocruz, o filme, feito para a Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, traz a tona um retrato do modelo de produção de alimentos adotado no Brasil a partir de elementos históricos recuperando as origens do atual modelo. Além disso, destaca o papel das grandes transnacionais na produção de insumo químicos e seus males para a saúde humana e ambiental.
A temática é abordada no filme por meio de reportagens exibidas na TV e no rádio, depoimentos, entrevistas e dados obtidos nos diversos centros de pesquisa. Os especialistas mostram os danos provocados pelo uso indiscriminado de agrotóxico à saúde da população e ao meio ambiente.
O atual modelo brasileiro de produção de alimentos baseado nos pressupostos da chamada Revolução Verde, está dando sinais de saturação. Ficou claro, a partir das abordagens do filme, que tal modelo não consegue mais crescer sem que sejam utilizados cada vez mais os pesticidas, herbicidas e fungicidas. E quem ganha com tudo isso? O lucro vai em uma única direção: para os cofres das grandes empresas transnacionais como a Monsanto, Syngenta, Bayer, Dow, DuPont, dentre outras que viram nesse mercado a oportunidade perfeita para substituir sua tecnologia bélica e continuar a auferir grandes lucros.
O filme aborda como a chamada Revolução Verde do pós-guerra ao substituir a produção de tecnologia bélica pela produção de tecnologia química para a produção agrícola, acaba com a herança da produção de alimentos por meio da agricultura tradicional. No lugar, o modelo que surge ameaça a fertilidade dos solos, a vida dos mananciais, a água e a biodiversidade, por meio da contaminação de pessoas e dos recursos naturais. Isso fica claro quando o filme mostra que dados que aponta o Brasil como o país do mundo que mais consome agrotóxico. São 5,2 litros/anos por habitante. Alguns destes, proibidos em vários países do mundo pelo risco que representa para a saúde humana e do meio ambiente e outros ainda, são proibidos no território nacional, mas que, segundo pesquisas realizadas, vários alimentos apresentavam contaminação por meio do uso de tais insumos.
Além dos lucros ganhos a partir da venda de insumos químicos, tais empresas que passaram as décadas de 70 e 80 investindo no desenvolvimento destes agroquímicos, se voltaram para o desenvolvimento de sementes.
Neste processo, onde as empresas produzem sementes a partir de recursos genéticos, os agricultores se vêem subordinados a tal estratégia que monopoliza a biodiversidade, enquanto mecanismo do capital no auge do seu neoliberalismo, para cercar o controlar a produção de alimentos. Além da privatização da biodiversidade, o filme mostra que os agricultores também são obrigados a pagarem pela propriedade intelectual das sementes, ou seja, além de estarem reféns de uma estratégia puramente capitalista, os agricultores ainda tem que pagar pro isso.
Alertando para o fato da dependência química e tecnológica que esse modelo agrícola impõe aos agricultores camponeses, o filme discute ainda o efeito dos agrotóxicos para a saúde dos trabalhadores que estão expostos diariamente à sua contaminação por meio da aplicação e para a população que consome o produto final por meio da alimentação.
Apesar de mostrar uma conjuntura negativa onda a agricultura brasileira apresenta-se em estado de estrangulamento da vida e do meio ambiente, o filme aponta que existem saídas. A primeira delas é dizer que a agricultura baseada nos princípios agroecológicos é capaz de produzir alimentos suficientes para a demanda da população, como mostrou a agricultor do interior de São Paulo que produz 15 toneladas de alimentos por ano em cada um dos 20 hectares de sua propriedade sem uso de agrotóxicos e adubos químicos. A segunda vem de uma agricultor camponês do Rio Grande do Sul, que por meios de esforços seus e de uma amigo Engenheiro Agrônomo recriou a semente crioula. Outro exemplo importante, veio da Argentina: em 2009 a presidente Cristina Kirchner ordenou a abertura de uma investigação sobre os impactos do uso dos agrotóxicos na agricultura de seu país.
Enquanto o Estado Brasileiro continua a promover o uso de agrotóxicos por meio de incentivos fiscais, o desafio apontado pelo filme está em popularizar a produção de alimentos orgânicos, pois estes ainda são de difícil acesso para a população e possuem preços elevados por conta da falta de incentivos na sua produção por meio do Estado.
*Discente do curso de Ciência Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia